Partilha de José Afonso

Recordo-me de alguém me ter dito que, ao subir ao Palco da Festa do Avante!, se não me engano na Ajuda, exclamou:

– “Nunca vi uma coisa assim!…”

Vale o que vale.

Sobre ele e Setúbal:

Foi um dos fundadores e animadores do Círculo Cultural de Setúbal, como é sabido. Mas um dos locais privilegiados da sua actuação, assim como de muitos outros cantores e fadistas amadores, catedral da “conspiração” comunista, era a “Academia Sapec”, a taberna do nosso militante Jerónimo Bárbara, o “Sapec”, aberta há meio século, e que hoje, desde o seu falecimento, é o Restaurante “O Egas”, mantendo persistentemente os ecos do fado.

Não é por acaso que “O Egas” é fiel depositário de uma fidedigna reprodução do Avante! nº 48, de Agosto de 1937 (mil novecentos e trinta e sete), onde há um texto “O FADO E O FASCISMO”. Curiosamente, numa noite de 15 de Fevereiro, quando o Avante! perfazia 81 anos, a neta do Sapec, Carolina, lia entre acordes “A morte saiu à rua”, grito de José Afonso contra o assassinato de José Dias Coelho, a 19 de Dezembro de 1961.

E o que se pôde ler no Observador de 3 de Setembro passado?: “No plano musical, a Festa do Avante! também vai ter uma “ode” à música de José Afonso, em particular ao 50º aniversário da edição do álbum “Cantigas do Maio”. Foi lançado o repto a todos os artistas para integrarem no seu espetáculo uma música ou faixa deste disco”.

Com toda a projeção da música na Quinta da Atalaia pelo meios sonoros, imagine-se José Afonso a partilhar: “Nunca vi nem ouvi uma coisa assim!”

Política e Cultura
Valdemar Santos
Militante do PCP