Setor vitivinícola recuperou em 2021 mas pode recuar em 2022

No ano passado o crescimento do setor na península registou um aumento de cinco por cento face a 2020. Agora as grandes marcas queixam-se da falta de garrafas e cartão, salientando que os preços aumentam de semana para semana. Este ano as produções serão idênticas às de 2021.

O ano de 2021 foi para o setor dos vinhos da região de Setúbal, assim como para a generalidade das restantes indústrias, um período de retoma económica. Ultrapassados alguns dos efeitos nefastos da pandemia de Covid-19, os produtores locais deram início à retoma nacional e, sobretudo, internacional, fazendo crescer os seus proventos na ordem dos cinco pontos percentuais.

“As empresas vinícolas souberam adaptar-se aos problemas levantados em 2020 devido à pandemia e, recorrendo ao lay off e a outras ajudas, conseguiram ultrapassar as dificuldades sem terem necessidade de fazer despedimentos. Essa decisão, a de não fazer despedimentos, foi fundamental para que, no ano passado, o setor tenha reassumido lugar de destaque, sendo o mais importante dentro da parte agroindustrial e para que, neste momento, se apresente com viabilidade e tenha registado um crescimento global”, disse ao Semmais o presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS), Henrique Soares.

Se o presidente da CVRPS realça o facto de os produtores de vinho não terem dispensado trabalhadores, algumas das principais marcas da região salientam, até, a crescente dificuldade em recrutarem colaboradores. “Este ano, mesmo tendo recorrido à publicidade e a agências de emprego, tivemos muitas dificuldade em conseguir gente suficiente para fazer as vindimas”, contou a diretora comercial da Cooperativa Agrícola de Palmela, Susana Madeiras.

Já a CEO da Casa Ermelinda Freitas, Leonor Freitas, também destacou a “imensa dificuldade em conseguir mão de obra”. “Antes estes trabalhos eram efetuados como se fosse uma tarefa familiar. Nunca havia falta de pessoal. Agora, a sorte é que as tarefas estão mais mecanizadas. É utilizada muita maquinaria que acaba por suprir a falta de trabalhadores. É um facto que no ano pas- sado até aumentámos o número de funcionários, mas isso não invalida que seja cada vez mais difícil obter trabalhadores. Os jovens estão a distanciar-se muito das tarefas agrícolas”, acrescentou.

Para as duas responsáveis contactadas a falta de pessoal pode ser justificada pelo envelhecimento generalizado da população, pela emigração ou, até, pelo facto de muita gente poder ter agora trabalhos paralelos e de estar a usufruir de subsídios.

O enólogo da Cooperativa Agrícola de Pegões, Jaime Quendera, fazendo a comparação entre o ano passado e 2020, refere que houve uma retoma positiva. “Em relação à faturação passámos de 22 para 24 milhões de euros, enquanto a produção de uva aumentou de 11 milhões para 13,5 milhões de quilos”, salientou.

Alta de Rótulos está a condicionar as vendas

A diretora comercial da Cooperativa Agrícola de Palmela, mesmo destacando o crescimento da empresa em cerca de 13 por cento em 2021, não deixa de afirmar que os próximos tempos podem ser muito difíceis para o setor. “Neste momento vivemos um período de grandes dificuldades. A retoma de 2021, que para nós se traduziu, por exemplo, num acréscimo de 71 por cento em relação às exportações, enquanto que as vendas nacionais quase mantiveram os valores de 2020, pode sofrer uma quebra abrupta face aos aumentos dos preços neste ano”, disse.

“Neste momento estamos a falhar encomendas por não haver rotulagens. Os rótulos para as garrafas, que são feitos em Portugal, estão a chegar com seis e sete semanas de atraso. Este é um problema grave e que se deve à falta de materiais. Não se trata apenas de falhar o envio de algumas paletes de vinho, mas também de, por falta de papel ou de cartão, não podermos expor os nossos produtos nos locais de venda. Isso faz com que os habituais compradores optem pelas marcas que conseguem mostrar-se”, adiantou Susana Madeiras.

Também Leonor Freitas alertou para as faltas de matéria prima no mercado, as quais são uma consequência direta do aumento generalizado dos preços, ditado pela guerra na Ucrânia. “Nos últimos meses aumentaram bastante os custos de todos os materiais, desde os combustíveis ao cartão e à eletricidade. O vidro, por exemplo, aumentou em cerca de 20 por cento. Estes aumentos não se refletem, de modo algum, nos preços praticados aquando da venda do vinho”, frisou.

Para Henrique Soares, apesar da gravidade da inflação deste final de ano, é ainda necessário esperar pelos resultados do último trimestre. “É um facto que a inflação já se faz sentir. No terceiro trimestre já se notou a retração. Há muitas dificuldades em fazer as entregas, assim como se nota um retrocesso entre os consumidores. No entanto é preciso também referir que na primeira metade do ano os valores obtidos acompanharam os de 2021”, disse aquele responsável.

Jaime Quendera alinha pelo mesmo diapasão no que se refere às dificuldade surgidas devido à falta de matérias primas e à sua comercialização a preços muito mais elevados. “Temos uma dificuldade acrescida devido à falta de materiais subsidiários, como sejam o vidro e o cartão. Já em relação ao pessoal a situação não sendo boa, também não é assim tão grave. A nossa proximidade em relação a Lisboa faz com que as falhas de pessoal para trabalhar na adega sejam momentâneas”, explicou.

Por fim, perspetivando o que pode ser este ano vinícola (as vindimas em Pegões termina- ram na terça-feira), o responsável pela cooperativa disse que “na generalidade o ano é bom”. “Comercialmente não deverão existir grandes diferenças em relação a 2021. Apesar de existirem, nas vendas, algumas quebras no mercado interno, esperamos compensá-las com o mercado externo”, concluiu.