O presidente da CCDR do Alentejo afirma que tem de haver uma “Sines II”, atendendo à questão energética e do gás. Admite que não tem dúvidas de que será uma temática que vai estar na cimeira ibérica.
O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo defendeu esta segunda-feira a criação de um projeto denominado “Sines II”, após o princípio de acordo entre Portugal, Espanha e França para as interconexões energéticas europeias.
“Eu acho que tem de haver uma ‘Sines II’, atendendo à questão energética e do gás, e eu não tenho dúvidas de que será uma temática que vai estar nesta cimeira [ibérica]”, disse o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo, António Ceia da Silva, em declarações à agência Lusa.
Para o responsável, as questões relacionadas com a transição energética e as novas energias devem marcar a próxima cimeira ibérica, que reunirá os executivos de Portugal e Espanha, em Viana do Castelo, na sexta-feira.
O Governo está apostado em colocar Portugal na vanguarda da transição energética e o Complexo Industrial e Portuário de Sines, no distrito de Setúbal, que vai exercer um papel crucial na área das energias verdes, como o hidrogénio, a nível internacional e europeu.
O Porto de Sines ganhou ainda maior relevância com a crise energética, devido à guerra na Ucrânia, podendo a infraestrutura portuária ajudar a suprimir a dependência energética da Europa ao fornecimento de gás da Rússia.
De acordo com o presidente da CCDR do Alentejo, o Porto de Sines vai ser utilizado no futuro, a nível europeu, na travessia de transporte de gás, nomeadamente do continente americano para o europeu, e, desta forma, vai surgir “uma nova Sines”, com o consequente “crescimento” naquela região.
“A Europa central estava ligada por gasoduto à Rússia, agora tem de ficar ligada por gasoduto a Sines e é por isso que eu digo que tem de haver uma ‘Sines II’. Tem de haver ali um grande investimento, uma grande infraestruturação ligada a esta questão do gasoduto, à questão da energia e à questão da alternativa ao fornecimento de gás à Europa”, disse.
“Isto passa por Sines, passa por Espanha, passa por este grande acordo europeu, mas passa claramente pela cimeira luso-espanhola, eu não tenho dúvidas sobre isso, que há um acordo entre Portugal e Espanha sobre essa matéria”, acrescentou.
Os Governos de Portugal, França e Espanha alcançaram, este mês, um acordo para acelerar as interconexões energéticas, que prevê um gasoduto por mar entre Barcelona e Marselha (BarMar).
Os líderes de Portugal, Espanha e França decidiram avançar com um “Corredor de Energia Verde” para as interligações energéticas entre os países, apostando nessa ligação por mar em detrimento de uma travessia pelos Pirenéus (MidCat), discutida há vários anos, mas que não era apoiada por França.
Sobre a cimeira de sexta-feira, António Ceia da Silva disse ainda que as expectativas do Alentejo em relação ao encontro são “extremamente positivas e interessantes”, face ao que “está proporcionado” e que está “praticamente concretizado” na região.
O responsável recordou, entre outros projetos, que a ligação ferroviária que ligará Sines a Madrid (Espanha) está “praticamente concretizada”, nomeadamente no troço entre Évora e Badajoz.
“Nesta cimeira deve ser acimentada a necessidade, que eu acho que é premente, da terceira ponte sobre o rio Tejo, que ligue Chelas ao Barreiro e que será fundamental para que fiquemos muito mais próximos de Madrid, muito mais próximos da Europa. Será fundamental do ponto de vista estrutural”, disse.
Uma outra obra que espera ver concretizada em breve e que espera que seja debatida na cimeira ibérica é a construção da ponte que vai ligar Cedillo (Espanha) a Montalvão, no concelho de Nisa (Portalegre), permitindo aos dois países ficarem “mais próximos”.
Entre outras matérias, o presidente da CCDR do Alentejo alertou que “falta fazer” uma promoção turística conjunta, entre o Alentejo e a Extremadura espanhola, nos países mais longínquos.
A seca é outro dos assuntos que gostaria de ver abordados no encontro ibérico.
“Nós temos uma ITI – Investimentos Territoriais Integrados, que está a ser trabalhada entre o Alentejo e o Algarve, cuja principal temática é, efetivamente, a água. Essa intervenção territorial integrada pretende também conjugar-se com a Andaluzia”, explicou.
Este projeto visa, depois, permitir que sejam desenvolvidas ações e iniciativas direcionadas para a poupança da água, restruturação da forma como a água é pensada e as ligações que se fazem entre os rios ou as ligações transfronteiriças.
Segundo António Ceia da Silva, este projeto já se encontra financiado pelo programa comunitário Portugal 2030, contando com um montante de “cerca de 100 milhões de euros”.