Montijo é a zona do país com maior concentração de estufas

A Covid-19 e a guerra estão a afetar as culturas, mas ainda assim produzem-se mais de 500 mil plantas por dia. Setor, que é responsável por cerca de um milhar de postos de trabalho, quer expandir-se a nível interno.

A produção de flores em estufas é uma das principais atividades agrícolas no distrito de Setúbal. Só no concelho do Montijo existem 20 empresas, sendo esta a maior concentração do género no país. São cerca de um milhar as pessoas que trabalham nestas culturas, as quais tiveram de destruir grande parte da produção nos anos em que a pandemia de Covid-19 se fez sentir com maior intensidade.

O Semmais contactou a Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais (APPPFN), entidade que gere o setor em Portugal e que destaca a importância das explorações montijenses referindo que ali existem cerca de 200 hectares de culturas de flores onde, diariamente, são produzi- das mais de 500 mil plantas.

Mesmo sem possuir elementos sobre o volume anual dos negócios gerados pelas empresas do concelho, a APPPFN diz que a sua importância é inequívoca, uma vez que emprega, direta e indiretamente, cerca de um milhar de pessoas. Estes trabalhadores são, na sua maioria, de origem asiática, nomeadamente da Índia, do Nepal, do Paquistão e do Bangladeche. Não é, no entanto, para estes países que é encaminhada a maior parte da produção. Segundo os representantes do setor, a atividade, ultrapassado que está o período mais crítico da pandemia, está a reforçar a presença de estufas.

Os investidores, tal como antes, são maioritariamente provenientes da Holanda, Bélgica e Inglaterra, mas não é a exportação que predomina. “O principal objetivo é fornecer o mercado nacional, diminuindo as importações”, referem ainda os responsáveis associativos, acrescentando que os mercados espanhol, holandês e inglês são os principais compradores das flores produzidas no país.

Setor registou 180 milhões de euros de prejuízos

A APPPFN diz que o setor da flor de corte ainda não conseguiu recuperar dos efeitos da pandemia e que o primeiro confinamento, ocorrido nos meses de maior venda das plantas (entre março e junho) provocou “uma quebra abrupta”.

“As empresas foram obrigadas a destruir grande parte da produção por falta de procura, tanto em Portugal como nos mercados de exportação”, conforme foi explicado ao Semmais. Nessa ocasião os prejuízos estimados rondaram os 180 milhões de euros.

“Num setor que lida com matéria viva perecível esta crise teve repercussões económicas elevadíssimas em todas as empresas, tanto mais que este é o setor agrícola que mais mão-de-obra emprega (80 por cento corresponde a trabalho assalariado permanente), explicaram ainda os responsáveis da associação.

“O acesso ao lay off não foi opção para a maioria dos produtores, dado necessitarem de funcionários para a manutenção das culturas instaladas. Algumas empresas diminuíram a sua área de produção, mas mantiveram os postos de trabalho, pois a escassez de mão-de-obra é uma realidade”, afirma a APPPFN, acrescentando que “após a pandemia, a crise provocada pela guerra ao nível dos preços das matérias-primas e energia, são um novo desafio para as empresas que começavam lentamente a recuperar”.

“Os produtores estão a tentar absorver o máximo possível o impacto destas subidas, para que não se reflitam no preço ao consumidor, mas a situação está a ficar muito delicada”, dizem à laia de aviso e como que antecipando inevitáveis aumentos.

Instados sobre as perspetivas para o ano em curso, os responsáveis da APPPFN dizem que “os produtores são resilientes e por isso acreditamos que com o Despacho que foi agora publicado, anunciando a criação de uma grupo de trabalho para o setor das flores, tenhamos o reconhecimento merecido pelo contributo para a economia agrícola do país, cujo valor da produção em 2021 , rondou os 533 milhões de euros segundo os valores divulgados pelo INE”.