Projeto com origem no Japão já foi replicado nos estaleiros da Lisnave. Fotógrafo da empresa pretende divulgá-lo por escolas, autarquias, empresas. Uma ideia em prol da biodiversidade e que até poderá servir para dar vida às impessoais rotundas.
Pode uma rotunda rodoviária transformar-se num espaço ecológico e que privilegia a biodiversidade? A resposta é afirmativa. Pedaços de cimento e alcatrão ou simples descampados dentro de áreas urbanas e industriais podem, facilmente, dar lugar a pequenas florestas. Os estaleiros navais da Lisnave, na Mitrena, acolhem este projeto pioneiro no distrito.
Onde havia 50 metros quadrados de nada, germina agora um coberto vegetal que promete trans- formar o local numa zona mais sustentável. Em breve, caso municípios e empresas resolvam seguir este exemplo, poderão multiplicar-se as florestas há anos concebidas pelo japonês Miyawaki.
A ideia de replicar no distrito o que foi inventado no Japão partiu de Vítor Gordo, fotógrafo da Lisnave que, depois de ver diversas vezes as mesmas imagens captadas por um drone, entendeu que os estaleiros tinham uma acentuada falta de espaços verdes e uma exagerada quantidade de áreas desaproveitadas. “Basta aproveitar o que está desaproveitado para fazer uma ilha de biodiversidade. A ideia de lhe chamar ilha aconteceu quando comecei a identificar rotundas rodoviárias completamente desaproveitadas.
Agora, estudadas questões como o tipo de vegetação a plantar, a visibilidade dos automobilistas e a segurança, porque esses locais, que se irão transformar em matas cerradas, poderão servir para esconder diversos animais, entendo que é possível fazer deles pequenas matas e, desse modo, melhorar a qualidade ambiental”, explicou ao Semmais.
“O custo de um projeto piloto como o dos 50 metros quadra- dos da Lisnave é praticamente irrisório, serão pouco mais de dois mil em dois anos. Primeiro escolhem-se as plantas e os compostos a utilizar. Depois existe uma manta de coberto vegetal no chão, cedida por uma empresa de Lisboa, que ajuda a manter a humidade e a potenciar o crescimento das plantas. Ao fim de dois anos nem sequer será necessário continuar a gastar dinheiro com regas”, acrescentou Vítor Gordo.
Mais de oito centenas de parques na europa
O projeto iniciado nos estaleiros navais e que teve todo o apoio da administração também já foi apresentada a outras entidades. Vítor Gordo diz que o apresentou a responsáveis da Junta de Freguesia da Quinta do Anjo, em Palmela, e da câmara do Barreiro. “Foi há 16 meses, mas depois disso ninguém respondeu. Talvez não tenham ficado suficientemente elucidados sobre as vantagens que as miniflorestas de Miyawaki representam.
Estes pequenos parques de biodiversidade existem em grande quantidade no Japão e na Índia. Na Europa há mais de 800, sobretudo em Inglaterra, Holanda e Bélgica”, acrescenta, lembrando ainda que o projeto também já despertou o interesse de grupos académicos. “A Faculdade de Ciências, em Lisboa, é neste momento a que tem a sua floresta em estado mais avançado”, disse.
Vítor Gordo diz ainda que esta ideia, que na empresa onde trabalha contou com o trabalho voluntário de 32 colegas de serviço, “tem todas as condições para ser replicada em escolas, indústrias, unidades hospitalares e nos bairros”.
“É útil para travar a erosão dos solos, mas também facilita a captação de água. Isto para além de poder servir de residência para muitas espécies animais. Além disso, as plantas utilizadas são autóctones. Podem ser sobreiros, azinheiras, pinheiros, loureiro, murta, alecrim. Tudo plantas próprias dos locais onde serão plantadas”, referiu.