Prometida por António Costa, a obra deverá servir o Metro Transportes do Sul e, também, ser pedonal e ciclável. Municípios já tiveram um projeto comum mas desentenderam-se e suspenderam projeto fundamental para a mobilidade e sustentabilidade ecológica.
Mais de um ano depois de o Governo ter anunciado a necessidade de iniciar com urgência a ligação através do metropolitano de superfície entre os concelhos do Seixal e do Barreiro, construindo para o efeito uma ponte rodo ferroviária de cerca de 300 metros sobre o rio Coina, nenhum trabalho foi efetuado. Os responsáveis autárquicos dos dois concelhos lembram que esta obra é fundamental para melhorar a mobilidade naquela área e, também, nos concelhos vizinhos de Alcochete, Montijo e Moita. Continuam a aguardar o prometido “fumo branco”.
“A ponte rodo ferroviária é um projeto estruturante. Em março de 2023 o Governo, por intermédio do então primeiro ministro, António Costa, disse que a mesma ia avançar com premência. Mas desde então a única coisa que se fez foi uma reunião preparatória. Desde então estamos todos a aguardar os desenvolvimentos”, disse ao Semmais o presidente da Câmara Municipal do Seixal, Paulo Silva.
Expetantes estão igualmente os responsáveis autárquicos do Barreiro. Ao nosso jornal o vice presidente do município, Rui Braga, confirmou os mesmos factos, defendendo que é fundamental a realização da obra que “irá melhorar não só a mobilidade como contribuir para uma melhoria significativa em termos ambientais”.
“Os dois concelhos estão separados por cerca de 300 metros. São dois municípios irmãos, ligados pela luta antifascista, por um historial comum protagonizado pelas populações operárias. Não faz sentido que para se ir do Seixal ao Barreiro e vice versa qualquer pessoa tenha de se sujeitar a um percurso de 17 quilómetros que, feito de autocarro, pode demorar quase uma hora”, acrescentou Paulo Silva, lembrando que as duas autarquias até já tiveram um acordo para avançarem, naquele mesmo ponto de passagem sobre o Coina, com a construção de uma ponte pedonal e ciclável.
Mudança de cores políticas geraram desentendimentos
A ponte que foi projetada há anos pelos dois municípios iria permitir a ligação apeada e por bicicleta. Custaria cerca de seis milhões de euros, sendo que metade dessa quantia seria proveniente de fundos comunitários. No entanto, quando da realização das eleições autárquicas de 2017, que determinaram a presidência socialista e o final do reinado de 12 anos dos comunistas, todo o projeto foi abandonado.
Os responsáveis da CDU entendem que a câmara socialista do Barreiro “não quis avançar” e dizem que os motivos, que no seu entendimento são exclusivamente de natureza política, só o executivo vizinho os poderá e deverá explicar. “Por nós, avançamos já amanhã”, frisou Paulo Silva.
O nosso jornal pediu essa mesma explicação à autarquia barreirense. “Parece-nos que a câmara do Seixal está a enganar as pessoas. Estão a utilizar uma argumentação panfletária, enganosa e mentirosa quando dizem que a ponte só não existe por má vontade da câmara do Barreiro”, acentuou Rui Braga, vice presidente da edilidade. “Nós não quisemos o primeiro projeto porque a ponte estava mal projetada. Só abria em 40 metros, quando o deveria fazer em cerca de 80. Foi por isso que foi chumbada pela Administração do Porto de Lisboa”, adiantou ainda o autarca, explicando que na altura a obra “não estava compatibilizada com a passagem das composições do metropolitano”, apesar de a mesma ter localização prevista na área de expansão daquele meio de transporte.
“É evidente que queremos que a obra se faça o mais rápido possível. Queremos uma ponte que continue a ser pedonal e ciclavél, mas que permita também a circulação rodo ferroviária”, acrescentou Rui Braga, estimando que um projeto dessa dimensão poderá custar “bem mais” do que os seis milhões de euros estimados num primeiro estudo.
Existiu uma ponte, mas um barco derrubou-a
O local onde a ponte pode ser edificada já acolheu uma estrutura do género entre 1923 e 1969. Era uma ponte ferroviária que desabou no rio depois de uma cargueiro ter com ela colidido. Na altura as pessoas dos dois concelhos circulavam entre as duas margens gastando apenas cinco minutos. Uma mobilidade que muito beneficiava quem trabalhava na indústria química, na CUF, no Barreiro, e a indústria metalúrgica, no Seixal. Diz-se também que esta seria uma das duas pontes (a outra era sobre o rio Judeu, na Ponta dos Corvos) que iriam permitir a construção do Ramal de Cacilhas, o qual nunca foi concluído. A imprensa da época, referindo-se ao acidente que derrubou a ponte, dá a entender que o mesmo poderá ter sido propositado, lembrando que a estrutura causava diversos problemas aos muitos barcos que ali tinham de passar com carregamentos de carvão.