Desinvestimento sueco pode travar projeto de lítio em Setúbal

Abertura das instalações passou de 2026 para 2028. Custos passaram de 700 milhões para 1,3 mil milhões. Projeto prevê a criação de mais de três milhares de postos de trabalho.

O projeto Aurora uma pareceria entre a Galp e a empresa sueca Northvolt que prevê a construção de uma refinaria de lítio em Setúbal e cuja abertura está programada para 2028 pode, afinal, vir a sofrer novos atrasos.

Os custos do empreendimento, que inicialmente deveria ser inaugurado dentro de dois anos, duplicaram, atingindo agora os 1,3 mil milhões e o Governo sueco, que tem apoiado financeiramente a empresa, já anunciou que não pretende continuar a injetar dinheiro, deixando todos os investimentos ao critério dos privados.

Entretanto o Estudo de Impacte Ambiental (IEA) encontra-se para consulta pública até 24 de outubro. A Zero e a Quercus, duas das principais agências ambientais nacionais, ainda não se pronunciaram, mas já manifestaram alguma apreensão.

“Tenho uma opinião que não vincula a Quercus”, diz Luís Silva, delegado regional quando contactado pelo Semmais. “Acho que deve ser construída uma via férrea para abastecimento da mercadoria até à fábrica e também entendo que o escoamento dos resíduos, que serão muitos, terá de ser efetuado pelo mesmo sistema”, refere.

Estas preocupações vão, de resto, ao encontro do que também foi transmitido ao nosso jornal por Acácio Pires, da Zero: “Basicamente entendemos que, mesmo sem termos feito ainda uma análise detalhada ao EIA, que existem riscos a não descurar, como sejam as águas residuais, o transporte de resíduos entre a refinaria e a cimenteira do Outão e também o transporte do minério que será descarregado no Porto de Setúbal e levado para a fábrica”.

Os ambientalistas entendem que a laboração em Setúbal não deverá corresponder a um aumento exponencial das emissões de CO2, não só através das operações de cozedura da rocha através da utilização de gás natural, mas também nas operações de transporte que serão efetuadas entre os locais de exploração (neste caso em Montalegre e Boticas, em Trás-os-Montes) e os locais do embarque ferroviário (em Famalicão).

Tanto Luís Silva como Acácio Pires dizem desconhecer os problemas financeiros que podem condicionar os planos da Northvolt. Ambos entendem que o projeto planeado para Setúbal pode ter grande importância económica, até porque a empresa sueca está empenhada em tornar-se no maior fabricante mundial de baterias elétricas para automóveis. Os promotores do projeto Aurora, recorde-se, estimam que a fábrica de Setúbal possa gerar 357 postos de trabalho diretos e mais 3.000 indiretos.

Em 2022 o projeto foi apresentado com um custo na ordem dos 700 milhões de euros. A passagem para quase o dobro é justificada com o esforço da melhoria de processos de engenharia e de performance nas áreas ambiental e económica. A primeira contemplando a redução das emissões de CO2 , a utilização de energias renováveis e o processo de utilização das águas residuais, a segunda através do aumento da capacidade produtiva.

Fabricante sueca de baterias Northvolt despede 1.600 trabalhadores

Entretanto, a fabricante de baterias elétricas Northvolt anunciou hoje o despedimento de 1.600 trabalhadores na Suécia, cerca de um quinto de toda a sua força de trabalho, no âmbito de um plano de redução de custos.

A empresa destacou a necessidade de adaptar as suas operações a uma situação macroeconómica “difícil” para garantir uma base de custos “sustentável”.

“Embora a situação para a eletrificação permaneça forte, precisamos de garantir que tomamos as ações certas no momento certo, para responder aos ventos contrários no mercado automóvel e ao clima industrial”, afirmou a empresa, em comunicado, citado pela EFE.

A fabricante de baterias elétricas suspendeu recentemente os planos para construir outra fábrica na cidade sueca de Borlänge e adiou por um ano a construção da sua fábrica no Canadá.

O primeiro-ministro sueco, o conservador Ulf Kristersson, voltou hoje a afastar a injeção de capital do Estado na empresa.