Antiga autarca justificou o regresso a Setúbal, teceu críticas à atual gestão e “ao populismo do PS”. Perante uma grande moldura humana, ainda abordou a polémica dos parquímetros.
“Campanha molhada, campanha abençoada”. Um expressão popular que apenas em outubro do próximo ano poderá ser comprovada, mas que a julgar pela mancha humana que esteve presente ontem ao final da tarde, na Avenida Luísa Todi, na apresentação pública da candidatura de Dores Meira à liderança da autarquia sadina nas próximas autárquicas poderá anunciar um bom presságio .
Na sua intervenção a ex autarca não deixou nada por dizer e quis mostrar, desde logo, ao que vinha, justificando o regresso a Setúbal, depois do insucesso político em Almada. “Setúbal é um propósito de vida. Quem ama Setúbal não pode ficar indiferente à estagnação do concelho. (…) O espaço público está sem brilho e os projetos de desenvolvimento estão parados. (…) Setúbal não pode ficar parado no tempo”, sublinhou a candidata.
Sublinhando as razões da corrida à presidência, começou por estabelecer algumas das prioridades que propõe para o mandato: “Precisamos do espaço público limpo e cuidado, sem lixo e sem ervas; jardins e espaços verdes bem tratados; mobiliário urbano em bom estado e de autarquias atentas à manutenção e céleres na intervenção”.
Do longo discurso destacou-se também o facto de ter identificado a segurança como um dos aspetos prioritários da sua candidatura, avançando com a ideia de criar uma Polícia Municipal. “Vamos apelar um reforço do contingente da PSP e GNR. Sabemos das dificuldades e que não chegam para as necessidades da população. Por isso achamos que seria oportuna a criação de uma Polícia Municipal. Queremos também avançar com a instalação de câmaras de vigilância em zonas estudadas e bem identificadas, que permitam auxiliar a nossa segurança e, paralelamente, manter a nossa privacidade”, explicou Dores Meira.
A ex presidente teve, ainda, tempo para atacar e desferir fortes golpes sobre a atual gestão da CDU, liderada por André Martins. “Na gestão municipal reina a desorientação e incapacidade para decidir e dirigir os serviços municipais, para responder às necessidades do concelho e às necessidades da população. Sou candidata porque Setúbal não pode ficar parada no tempo e nas mãos daqueles que demonstram não estar à altura das responsabilidades do concelho” referiu. A estas críticas juntaram-se fortes reparos à gestão financeira da autarquia, revelando que pretende lançar uma auditoria às contas da instituição. “Foi necessário muito esforço para recuperar a saúde financeira do município e hoje essa saúde voltou a ser preocupante, em apenas três anos. Em 2022 o atual executivo utilizou 12 milhões de euros da caução do contrato da concessão da água para pagamentos a fornecedores. Hoje, apenas dois anos depois, crescem diariamente as dívidas do município e o número de fornecedores que se recusa a trabalhar com a câmara”, elencou.
Dores Meira também não esqueceu a posição do Partido Socialista, acusando-o de “populismo” e “demagogia. “Setúbal não pode estar entregue ao populismo dos que governaram o município e o deixaram na bancarrota que demorou a 20 anos a recuperar. Setúbal não pode ficar entregue a aventuras.”, referiu.
Parquímetros não foram esquecidos
À medida que a chuva engrossava, engrossou também o discurso da antiga autarca que não quis deixar ficar de fora a polémica do crescimento substancial dos parquímetros em Setúbal, com a nova concessão a ser assinada durante o seu último mandato na edilidade: “Muito se disse sobre este tema, menos a verdade, vamos acabar com as versões deturpadas. O contrato que assinei na câmara não é o que está a ser implementado. Hoje temos outras coisas e os responsáveis pouco têm feito para corrigir. A questão do estacionamento, e fica aqui o meu compromisso, ficará resolvida. Temos vindo a estudar a fundo o sistema para avaliarmos as falhas atuais”.
Neste campo voltou a apontar baterias à CDU, acusando a atual gestão de “inação”. “Além da empresa estar a colocar parquímetros onde não deviam estar colocados, existem contrapartidas que continuam a não ser cumpridas. Onde estão, por exemplo, os dois estacionamentos subterrâneos, que pelo menos um já deveria ter sido construído? Onde está a gestão e limpeza do espaço público pela empresa em zonas tarifadas?”, questionou.
O PS não ficou esquecido nesta matéria, com Dores Meira a recordar a chegada dos parquímetros à cidade. “Não se querem lembrar, mas Setúbal tem estacionamento tarifado desde 1992. Nesse ano a câmara, governada pelo Partido Socialista, assinou um contrato por 20 anos sem qualquer contrapartida para a autarquia e para a cidade. Como justificar uma concessão sem contrapartidas?”, atirou.
A noite serviu ainda para Dores Meira apresentar a equipa que a acompanha na corrida à liderança da autarquia sadina. Além de contar com Henrique Jones, conhecido médico ortopedista setubalense, como mandatário de campanha, David Martins, outro médico, desta feita oftalmologista, foi apresentado como candidato à presidência da Assembleia Municipal. Para as freguesias avança com Nélson Santos (Azeitão), Vítor Augusto (São Sebastião), Ana Lúcia Furtado (Sado), Júlio Gamito (Gâmbia-Pontes-Alto Guerra) e Carla Tavares (Setúbal).