Espetáculo leva o público a viajar para uma realidade distópica e ficcional, procurando alertar para os fenómenos extremos partidários no nosso país e um pouco por todo o mundo.
“2030, A Nova Ordem” é o mais recente trabalho da Associação Setúbal Voz que estreia no Fórum Luísa Todi, em Setúbal, a partir das 21h00, mantendo-se em cena ao longo de todo o fim-de-semana. Encenado por Jorge Salgueiro, este espetáculo resulta de um conjunto de óperas que tem vindo a ser apresentado no âmbito do financiamento atribuído pela Direção-Geral das Artes.
“Nesse apoio financeiro bienal tínhamos sustentado um projeto de quatro óperas, que acabou por constituir o pilar de toda a atividade da associação nestes dois últimos anos. Cada uma aborda uma constituição portuguesa. Nesta quarta opera tratamos de uma obra distópica, ficcional, ao contrário das anteriores, inspirada em eventos históricos, que projeta para 2030 a possibilidade de um partido extremista chegar ao poder e conceber uma nova constituição que retira aos portugueses muitos direitos e garantias”, explica ao Semmais, Jorge Salgueiro.
Nesta viagem “distópica e ficcional” que o espetáculo percorre, o partido no poder, o “Alternativa Populista Nacional” procura, aproveitando uma crise sanitária e através do controlo de informação, conseguir rever a constituição. “Trata-se de uma obra que vem alertar para estes perigos, nomeadamente sobre o que partidos dos extremos podem causar à nossa sociedade. A obra foi concebida há quase três ou quatro anos, este assunto já existia e já era discutido, mas não estava tão presente no nosso quotidiano como está hoje. O quotidiano acabou por passar a imaginação dos nossos criadores e o espetáculo acaba por ser esse alerta para olharmos para as coisas com mais cuidado. Em consciência cada um decidir o futuro do nosso país e do nosso mundo e não se deixar enganar por informações não totalmente verdadeiras”, revela o maestro e encenador.
Para Jorge Salgueiro, esta trabalho muito mais que um “espetáculo apelativo” tem a função importante de questionar: “É uma ópera bem construída em termos visuais e musicais, mas é também uma ópera que nos pode deixar um pouco desconfortáveis e a pensar nas possibilidades que o atual mundo nos reserva”.
O espetáculo, que conta com Carolina Pinho, Constança Melo, Daniela Pessoa, Diogo Oliveira, Gonçalo Martins, Helena de Castro, João Merino, Leonor Rovisco e Mariana Chaves no elenco, e a participação do Coro Setúbal Voz e Academia de Dança Contemporânea de Setúbal nas personagens coletivas, conta ainda com música gravada pela Orquestra do Norte. “A banda sonora tem um caráter épico, retratando as relações de poder, temos um primeiro ministro, uma presidente, um sindicalista; mas também o caráter humano, com os casos de amor entre o primeiro ministro e três mulheres ( a presidente, a diretora da TV e a esposa); e ainda um aspeto virtuoso, através da escrita para as vozes. Estamos a falar de oito vozes de grande qualidade, a escrita vocal é sempre muito importante numa ópera e nesta sai muito sublinhada também”, explica Jorge Salgueiro.