A obra será efetuada no verão do próximo ano e será paga pelo Estado. Na Costa da Caparica, sobretudo na zona das praias do Norte e da frente urbana, estima-se que existam um milhar de casas que poderão ser afetadas. O perigo, em menor escala, também incide sobre Setúbal, Montijo, Barreiro e Seixal.
O ministério do Ambiente do Ambiente vai investir, no verão do próximo ano, oito milhões de euros na Costa da Caparica. Trata-se de um enchimento de areia, o terceiro desde 2014, destinado a conter o avanço do mar. Sem esta operação, dizem os autarcas locais, podem vir a sofrer graves danos ou até a desaparecerem parcialmente entre quatro a cinco quilómetros de linha costeira.
“A frente de mar da Costa da Caparica é das que, em toda a Europa, apresenta uma das maiores energias. Isso causa um desgaste muito acentuado todos os anos e pode colocar em risco uma vasta área. O próximo enchimento de areia irá contemplar as praias do Norte e o jardim urbano e toda a zona paralela ao quartel da GNR”, explicou ao Semmais o presidente da Junta de Freguesia local, José Ricardo.
Um estudo recente promovido pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e realizado por especialistas da Faculdade de Ciências de Lisboa refere que a Costa da Caparica é a segunda zona da região costeira de Lisboa que mais poderá sofrer com o avanço do mar. As estimativas apontam para que um avanço descontrolado das águas do Atlântico possa colocar em risco cerca de um milhar de habitações. Mais problemático, dizem os peritos, apenas a zona de Vila Franca de Xira. Para além do concelho de Almada, os estudos referem que também em Setúbal existem 871 edifícios em risco, enquanto no Montijo serão cerca de 470, no Barreiro 450 e no Seixal 340.
Para o autarca a obra prevista é determinante “para proteger pessoas e bens”: “Toda a zona Norte da cidade pode vir a sofrer graves consequências com o avanço do mar. Já na parte Sul os riscos não são iminentes, até porque a não concretização do Costa Polis evitou que se edificassem na área construções pesadas, destinadas à atividade hoteleira e turística”.
Voltando às praias e áreas habitacionais consideradas de maior risco, José Ricardo refere que “existe um perigo real para a Costa da Caparica, Cacilhas, Trafaria e Cova do Vapor”. “Os estudos já efetuados por diversos especialistas referem que os enchimentos de areia são determinantes para travar o avanço do mar nas zonas referidas. Se é uma solução cara fazer este tipo de intervenção a cada cinco anos? Respondo com algumas perguntas: Havendo um recuo da linha de costa, qual seria o custo financeiro? E psicologicamente? Será que alguém iria entender a Costa da Caparica sem zonas de lazer? Já agora, será que alguém já fez as contas e se apercebeu de quanto custa a cada português fazer o enchimento de areia já previsto? Sim, é bem menos de um euro por habitante”.
Na memória dos caparicanos ainda estão os resultados da Tempestade Hércules, em 2014, quando o mar avançou por diversas áreas urbanas, causando primeiro a destruição das muralhas oceânicas e dos esporões, e arrasando posteriormente diversos bares e restaurantes de praia e alagando a Avenida General Humberto Delgado, uma das vias fundamentais da cidade.
José Ricardo relembra, por outro lado, que o avanço do mar também pode ser travado caso exista o cuidado de travar a erosão das dunas. Para isso é necessário, no entanto, apostar em colocar nesses locais a vegetação capaz de travar os efeitos do vento e da água. O Projeto Reduna, efetuado há cerca de dois anos na zona de São João da Caparica, é apontado como uma iniciativa de êxito e que poderá ser replicado noutras áreas de risco.
Autarca apela à sensibilização
A educação ambiental é uma das bandeiras do presidente da Junta de Freguesia da Costa da Caparica para travar o avanço do mar naquela que será uma das maiores áreas de praias do país, responsável anualmente pela chegada de cerca de 12 milhões de banhistas. “O mar absorve o dióxido de carbono e o metano e é fundamental para regenerar toda uma área que gera riqueza para o concelho e para o país. Para que seja possível baixar as emissões é necessário sensibilizar todas as pessoas, sejam residentes ou não. Temos de alertar para os prejuízos causados pela crescente circulação automóvel, mas também para danos resultantes do desperdício de água ou da acumulação de lixo”, referiu.