Sindicatos, através da UGT, alertam para o facto de o setor industrial, mas também a agricultura e a construção civil, estarem a perder muitos postos de trabalho. Preocupante é, também, o crescimento do trabalho não declarado.
A taxa de desemprego no distrito de Setúbal continua a ser superior à média nacional. A situação, de acordo com a perspetiva dos dirigentes da União Geral de Trabalhadores (UGT), terá tendência a agravar-se, sobretudo no setor industrial.
“Até à crise surgida na sequência da pandemia de Covid-19 o número de desempregados no distrito e, sobretudo, na península não estava distante da média nacional. Pelo contrário, estava até um pouco abaixo. Depois é que surgiram os problemas. Houve postos de trabalho que desapareceram em virtude da adoção de novas tecnologias e da informatização. Criaram- -se novos hábitos e rotinas com o trabalho digital”, disse ao Semmais o responsável da UGT no distrito, Manuel Fernandes.
O dirigente sindical revelou ainda que a par das mudanças ditadas pela pandemia houve, igualmente, um retrocesso a nível da empregabilidade em setores como a agricultura e a construção civil. “Muitas pessoas que trabalhavam nessas áreas tiveram de procurar emprego no estrangeiro”, adiantou.
Em setembro deste ano, de acordo com os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o desemprego em Portugal estava em 6,4 por cento. “No distrito, após ultrapassada a crise da Covid os números inverteram-se em relação ao resto do país. Passou a haver mais gente sem trabalho. A indústria foi o setor onde mais se notou esse problema, devido à já explicada questão das novas tecnologias. Notamos que houve uma inversão e que o distrito, outrora dominado pelo setor industrial, passou a ter uma presença cada vez mais acentuada relacionada com as áreas da prestação de serviços e do turismo”, disse ainda Manuel Fernandes, lembrando que no primeiro trimestre deste ano a média de desemprego no país era de 6,8 por cento ao passo que em Setúbal se cifrava já nos 8,1 por cento, percentagem que representava mais de 350 mil pessoas.
“Não creio que já tenhamos atingido, no distrito, o pico do desemprego. Acho que durante uns tempos a situação terá tendência para se agravar”, afirmou ainda o responsável da UGT.
O dirigente distrital referiu, por outro lado, que a par “do aumento do desemprego estrutural que não é exclusivo deste Governo, uma vez que já no final da vigência do anterior se fazia sentir” existe uma preocupação que se tem vindo a acentuar e que se prende com a existência de cada vez mais casos de emprego não declarado.
São cada vez mais as pessoas que se dirigem aos sindicatos devido a questões laborais. Ainda não temos registo, como acontece noutras zonas do país, de casos de despedimentos coletivos, mas estão a surgir muitas pessoas cujo trabalho não fora declarado pelos patrões aos órgãos nacionais que fiscalizam a área. Estas situações, que são de extrema gravidade, afetam sobretudo pessoas que estavam a trabalhar nos setores da agricultura”, adiantou Manuel Fernandes.
Mesmo sem uma quantificação dos casos de trabalho não declarado, o dirigente releva a gravidade da situação ao ponto de os diversos sindicatos estarem agora empenhados em realizar sessões de esclarecimento nos locais de trabalho de todas as áreas produtivas. “Temos gente que vai, com muita frequência, explicar aos trabalhadores quais os seus direitos, seja relativamente a horários laborais, condições para executarem as suas tarefas, remunerações ou descontos obrigatórios a cargo das entidades patronais. É importante que quem trabalha conheça os respetivos direitos”, salientou.
Para Manuel Fernandes as situações de trabalho não declarado irão, a breve trecho, agravar a situação económica da população do distrito. São casos que se manifestam, sobretudo, nos setores da agricultura e construção civil e que na maior parte dos casos incidem sobre os imigrantes: “No futuro muitas dessas pessoas, por não estarem contempladas com os mecanismos de proteção laboral, podem deparar-se com situações de desemprego e quase sem acesso a compensações ou subsídios. Os riscos de aumento da pobreza são evidentes”.