Problemas novos e velhas soluções

TODOS os dias nascem problemas novos. No turismo também. Ou, melhor dizendo, no turismo especialmente. E, no entanto, persistem as soluções velhas. Velhas de anos ou mesmo de décadas. E essas soluções são sinónimos de danos económicos, mas também danos de atitude e de comportamento.

O pior é que têm nomes “bonitos”; e convenceram-nos, ao longo das últimas décadas (leram bem: décadas!) de que geram resultados. E, nesse engano, dominaram, e dominam, parte das prioridades do turismo. Os seus nomes, tão conhecidos como valorizados, são: feiras “promocionais” e eventos. Comecemos pelas feiras. Ou, numa formulação alternativa, pela ilusão de que contactos no contexto das feiras são iguais a resultados. Desde sempre, e por muito tempo ainda, nos dirão, no esplendor do artifício, que a participação numa feira é a solução milagrosa. Esta tal de feira cria valor (é sempre bom nunca quantificar, afinal, qual é esse valor). E é sinónimo de sucesso garantido. Que confere notoriedade. Que, qual inevitabilidade, sobre tudo o que se fala, e promove e se oferece (sim porque nas feiras se oferece muito: de produtos a informação), na perspetiva do turismo, se fará grandeza e reconhecimento.

Curiosamente (ou talvez não) nem uma palavra sobre o digital. Nem uma palavra sobre os comportamentos dos turistas na segunda década do século XXI. E pior: milhões depois alguém fez as contas? Já sabem qual é a resposta, não sabem? Claro que não! Mesmo fazer as contas, em particular quando se fala em feiras, não é, nem de perto nem de longe, fácil.Tendo já passado 20 (vinte) anos no novo século, os “velhos hábitos” parecem ter dificuldade em mudar. Senão, repare na mais recente feira perto de si (ou normalmente longínqua, porque quanto mais longe mais apelativas as feiras se tornam). Porque será?

Quem pensa que uma frase bonitinha e uma imagem atraente faz alguém sair de casa para fazer férias num destino é um amador no mundo da persuasão. As pessoas, e as pessoas enquanto turistas, estão informadas como nunca. São, que nunca se esqueçam, inteligentes. Informam-se com quem já viveu experiências em lugares que lhes parecem atraentes. Escolhem o que já gostam. Querem o que lhes interessa. E o que lhes interessa é a realidade. Viver um conjunto de experiências.No entanto os vendedores de ilusões não desarmaram. E, têm um poderoso aliado: um certo país que não faz contas nem está habituado a avaliar os “investimentos” que faz. Um luxo num país (aparentemente) rico. Por isso investimento e despesa estão hoje totalmente confundidos. Na próxima brilhante feira de que ouvirem falar, não deixem de pensar: que resultados terão sido atingidos? E, já agora: quem ganha, realmente, com ela?

Depois, e porque um mal nunca vem só, aparecem os “eventos”, aliados e irmãos gémeos da dita “promoção”. Tirando exceções, poucas e limitadas, estamos no império da despesa. Os protagonistas são pagos. A organização tem, naturalmente, um custo. Os convidados, bem os convidados são convidados. A divulgação (sempre pouca e sempre insuficiente) tem, também, um custo. E para cada custo uma fatura. E imaginem quem, afinal, paga todas estas faturas? Exato, acertou! É você que paga. Somos nós que pagamos. O que realmente é relevante é que nada disto é inevitável. Tudo pode ser diferente. E diferente para melhor. Os eventos são parte da nossa cultura e da nossa identidade. Claro que sim. Nas festividades, na cultura, no desporto. Mas podem ser investimento. Como são aliás em tantas latitudes e outras tantas geografias. Podem atrair pessoas, turistas, patrocinadores. Podem ser projetos que criam valor. Que trazem riqueza (e não despesa) às nossas cidades e à nossa região. Pergunta-se: então porque é que não trazem?

A resposta começa por ser simples. Porque estes eventos são desenhados, são pensados, para serem, precisamente, uma despesa. São a medida do cheque (ou da transferência) público. Se o cheque é grande também o evento. Se o cheque é pequeno o evento é pequeno. O cheque é a sua razão de ser. Quando a sua razão de ser deviam ser as pessoas, os públicos, os cidadãos e as empresas. Que, afinal, pagam a “festa”. O que se lamenta é a falta total de entendimento de que tudo o que é insustentável não tem futuro. Não tem nem nunca terá. Por isso a palavra-chave é: sustentabilidade.

TURISMO SEMMAIS
Jorge Humberto
Colaborador