ESTA PODE mesmo ser uma crónica de opinião sem jeito algum. Até mesmo sem originalidade, sobrepondo-se o título à identidade desta coluna, onde o autor, fruto das suas vivências – e, já não são poucas! – acredita que a essência da vida está na verdade das coisas simples.
Talvez este apontamento seja resultado de um estado de cansaço, não do prazer de viver e saborear todos os momentos, nem tão pouco de falta de decisão em enfrentar possíveis contrariedades (quem não as tem?), mas fruto da exaustão de assuntos banais que ganham estatuto e relevo em qualquer canal televisivo ou rede social. Principalmente, em certos canais de televisão que aproveitam toda e qualquer notícia para fazer delas motivo de transmissão direta, até que mais não se possa dar-lhe importância. Muitas vezes roçando o ridículo, como aquele, entre outros, em que um homem alertou ter uma bomba armadilhada no seu carro, quando ao fim de longo tempo de entrevista se veio a saber que nada confirmava o achado e apenas se ficava pela suspeita de ter sonhado com isso, seguindo os conselhos da sua mãezinha, já falecida, de que, quando isso acontecesse era melhor dar importância a esse sinal de perigo que, muito bem podia ser verdade.
Mesmo quando a matéria é importante torna-se fastidiosa a abordagem momentânea, quase ficando a impressão de que é só para preencher o cartaz televisivo. Exemplos não faltam, sejam eles agora o Coronavírus, o dito caso Marega, o caso da morte do triatleta e o envolvimento da sua mulher Rosa Grilo, o Luanda leaks e Isabel dos Santos, os banqueiros e os buracos em bancos falidos, enfim um rol de coisas que tendo oportunidade em certos momentos da notícia acabam por se esvair no tempo e muitos deles, associados, normalmente, à intervenção da justiça, se vão perdendo na memória das gentes.
Claro que também há aqueles casos que, em contrário, mesmo que a justiça atue e delibere pela absolvição, convém manter na dúvida e constituir-se quase uma “nódoa” impregnada na vida das pessoas. E esse tem a ver com o poder pérfido de um meio de comunicação de grande difusão e visibilidade.
Pois bem, dir-me-ão, como já dizia o antigo primeiro-ministro António Guterres: “É a vida!”. Mas sendo a vida, melhor era que nos dessem contexto e sabor à vida e não nos infernizassem a dita, não nos dando muita escolha por onde caminhar, para já não falar da moda de quase todos os canais televisivos arregimentarem comentadores futebolísticos para debitarem à mesma hora opiniões e táticas, coisa de que muitos deles pouco ouviram falar.
Bem no que respeita às redes sociais, as coisas por vezes são mesmo simples de mais, cruas e violentas. Vai sendo lugar-comum sobrepesar os efeitos de quem as usa e se expõe a qualquer comentário desabrido e infundado. Por detrás da máscara e de algum perfil imaginário, aí vale tudo, tornando-se moda as ditas fake news (inverdades ou mentiras, como dirão na minha aldeia).
Em suma, não se acrescentando nada ao que muito bem se conhece, há vezes em que um quase desabafo se torna legítimo, nem que seja para irmos criando consciência da bondade que se pode encontrar na “verdade das coisas simples”.
A VERDADE DAS COISA SIMPLES
José António Contradanças
Economista e Gestor