A vulnerabilidade perante a morte tem acompanhado a Humanidade desde que existimos. De algum modo conseguimos superar a natureza produzindo ferramentas que actuam como extensões do nosso corpo ou, tecnologias que regulam a temperatura ou, a luz à medida dos nossos desejos, tecnologias que nos permitem viajar levando connosco o nosso mundo e, por consequência, as nossas doenças.
Desde cedo que a coincidência entre os viajantes e as doenças, foi notada fossem elas doenças genéticas, fossem epidémicas. Este foi, provavelmente, um dos factores que levou ao “medo dos estrangeiros”, a xenofobia.
Numa época em que as doenças e a morte se explicavam simplesmente, como consequência da vontade divina, os progressos da medicina e da biologia permitiram uma nova compreensão dos fenómenos e um nível de intervenção na vida e na morte que ainda há cinquenta anos pareceriam saídos da ficção científica. Mas ai que entre os nossos triunfos sobre a Natureza não consta a vitória sobre a Morte e, por isso, num certo sentido sentimo-nos tão vulneráveis quanto as sucessivas gerações que nos procederam perante epidemias de tifo, pestes, cólera, de coronavírus… Podemos aprender as lições do passado: podemos limitar as nossas viagens e minimizar os contágios ficando em isolamento social. Não vale a pena alimentar teorias da conspiração que exploram medos primitivos como o medo do “outro”; não faz sentido divulgar curas estapafúrdias que, no melhor dos casos, se revelam inócuas (o vinagre, a urina, o alho são apenas algumas das receitas “infalíveis” também no passado).
O Covid-19 provocou, a nível global, um conjunto de consequências, em primeiro lugar, para a saúde, mas que se estendem à economia, à sociedade, à cultura, ao modo como interagimos com a Natureza.
Não deixa de ser curioso pensar que os pequeníssimos vírus podem causar gigantescas convulsões no nosso modo de vida e, não se trata de Orson Welles, trata-se do caso bem real de mais um vírus que ameaça a Humanidade… bom, poderia ser bem mais temível afinal, alguns comparam-no a uma simples gripe, uma gripe potencialmente letal para as pessoas e que se poderá transformar numa pneumonia para a economia global. O súbito arrefecimento da economia global faz aumentar os receios relativos aos impactos sociais no “dia seguinte”. Desemprego, aumento das desigualdades, instabilidade social são alguns dos efeitos que as restrições impostas pela resposta ao covid-19 podem acarretar até porque dificilmente tudo ficará na mesma – realidades como o teletrabalho banalizaram-se acelerando e consolidando uma tendência nos países desenvolvidos.
O passo dado pelo Eurogrupo de disponibilizar 500 mil milhões de euros para ajudar a proteger os trabalhadores, apoiar as companhias, os serviços públicos e estabilizar a economia no curto prazo pode ser determinante para promover um regresso à normalidade possível. Trata-se de um passo na direção certa, sendo que não poderá ser um acto isolado, mas um pacote que permita evitar a austeridade pela austeridade e o consequente abrandamento da economia com consequências negativas para as condições de vida para os trabalhadores de todo o mundo.
CRÓNICAS DISTO E DAQUILO
Catarina Tavares
Dirigente Sindical