E de repente todas as nossas certezas estão viradas de pernas para o ar.
À confiança económica que se respirava, a que se juntava uma taxa de desemprego surpreendentemente baixa, com recordes, atrás de recordes no turismo nacional, sucede-se a agonia, a incerteza.
Na política, Rui Rio recente vencedor das primárias no seu partido agonizava. Restava-lhe um papel secundário, que o seu partido, habituado e cujo ADN é de poder, não aceita.
O Presidente da República, ia gozando o seu estado imaculado. Selfies, para aqui, selfies para ali e assim se ia cumprindo o mandato.
À falta de temas políticos, andávamos entretidos a discutir a eutanásia. Ironicamente continuamos a discutir a morte e a eventualmente a escolha de quem morre, e de quem vive, mas já não é uma discussão académica, política ou meramente teórica. É a nossa realidade, Já hoje. Ou amanhã.
Entretanto ele chegou. Sem aviso. Até pode ter havido, mas ninguém de nós o levou a sério. E nós, quando percebemos que ele nos bateu À porta entrámos em pânico. Como era possível que um País que não consegue resolver os seus problemas crónicos nas urgências nos picos da gripe, conseguisse controlar uma pandemia destas dimensões?
Como era possível que um País de brandos costumes, com uma cultura de comportamento social abaixo daquelas dos restantes Países Europeus, nomeadamente dos nórdicos, conseguisse cumprir regras. Logo nós que nem por um sinal de peões verde esperamos!.
Previa-se o pior. Ainda para mais governados pelas mesmas pessoas que não tinham dado conta do recado nos incêndios, na questão das pedreiras, na saúde, na história mal contada de Tancos. Como era possível? Deus nos acudisse.
Não sei se foi Deus, se foram os Portugueses, se foi o governo que aprendeu, se foi a colaboração da oposição, mas a verdade é que de repente transformámo-nos no exemplo da Europa. Num dos melhores exemplos do mundo inteiro. Comparam-nos à vizinha Espanha. Comparam-nos a Itália e saímos sempre bem na fotografia.
De repente pouco importa que o governo se tenha atrasado a fechar as fronteiras. Que não tivesse sequer medido a temperatura aos passageiros que entravam no País. Que os cruzeiros que o resto do mundo não aceitava, viessem amarrar em Portugal. Que a DGS achasse que íamos ter um milhão de infectados, que o pico da pandemia fosse no final de Maio, depois a meio de Abril, depois no final, depois, afinal já tenha sido. Que as máscaras (quando não as havia) eram desnecessárias porque davam uma falsa sensação de segurança e de repente passarem a ser obrigatórias.
Nada importa, pois tal como no futebol, o treinador que é uma besta durante os 90 minutos, vê a sua equipa marcar um golo aos 92`e torna-se um herói.
Por mim , não vou na conversa do Costa, mas para o bem de todos nós, espero que se transforme num herói dos tempos modernos…
UM CAFÉ E DOIS DEDOS DE CONVERSA
Paulo Edson Cunha
Advogado