Radicalmente na defesa de Abril!

O 46º aniversário do 25 de Abril comemora-se num momento muito particular. Estamos certamente perante um dos momentos mais difíceis das nossas vidas, não só pela experiência de uma Pandemia que nos atinge enquanto sociedade, limitando-nos e confinando-nos, mas também pelos efeitos, económicos e políticos, do momento que se seguirá.

A História das décadas de 20 e de 30 do século XX, vivida no espaço europeu entre o final da Primeira Grande Guerra e da Segunda, nomeadamente a epidemia da Pneumónica entre 1918 e 1920, o crash bolsista de 1929, as ditaduras nacionalistas e fascistas, o nazismo e o holocausto, dão-nos importantes pistas relativamente aos perigos de momentos como este que atravessamos.

O que o tempo histórico mais mortífero e cruel do Continente Europeu nos ensina é que não podemos, em nenhuma circunstância, ceder ao populismo, que se alimenta do medo e da insegurança que as incertezas de futuro oferecem, sob pena de perder todo um património de liberdade e democracia que o 25 de Abril e a construção europeia nos trouxeram.

A partir da revolução de Abril e da estabilidade democrática alicerçada nesse acontecimento, Portugal entrou na União Europeia e tem sido desde 1986 parte dessa construção. Hoje, somos herdeiros de um legado que não queremos ver destruído e por isso estamos na frente da defesa de uma Europa que tem de ser solidária com os países que estão a ser mais castigados pelo Coronavírus, sob pena de terminarmos esta crise com  o fim do projeto europeu, que  é bom lembrar, nasceu para que não voltasse a haver fome e guerra no velho continente.

Se há momento em que temos ainda mais que defender radicalmente a democracia, é este. É bom lembrar que hoje, em Portugal, estamos munidos de um Sistema Nacional de Saúde, de um Sistema de Segurança Social público e de uma Escola pública e universal, graças a um paradigma democrático que tem como um dos mais importantes valores fundadores a igualdade de direitos e oportunidades para todos os cidadãos.

A controvérsia em torno das comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República é a demonstração de que não podemos ceder ao populismo e à demagogia promovidos por quem viu no confinamento das pessoas e no seu cansaço, muitas vezes agudizada pelas dificuldades financeiras associadas, a oportunidade de desvalorizar a importância simbólica da comemoração no Parlamento, acicatando a polarização social entre os cidadãos e as instituições políticas.

Esta bipolarização plantada na sociedade portuguesa por quem não gosta do 25 de Abril e da democracia, vai desgastando um património que foi fruto de um combate de 48 anos contra a ditadura, cujo sofrimento pessoal de tantos e o custo social do Povo português, não têm quantificação possível.

Hoje mais do que nunca devemos comemorar Abril, porque se hoje temos um país de pessoas escolarizadas, de direitos laborais, de saúde para todos, de proteção social e de liberdade, devemo-lo a esse momento ímpar na nossa História, que nos permite hoje expressarmo-nos e decidirmos livremente, tendo direitos, liberdades e garantias, que nos protegem enquanto cidadãos.

ATUALIDADE
Catarina Marcelino
Deputada do PS
Ex-Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade