E o inesperado aconteceu. De uma semana para a outra vimo-nos confinados, trancados, isolados, vítimas de rituais de limpeza. O futuro que se andava a anunciar fez-se presente num piscar de olhos: o teletrabalho e a videoconferência, os drones a controlar a ordem pública, as apps que controlam os infectados e os seus contactos…. Tudo chegou de uma assentada. Ainda estamos, todos, a tentar conseguir processar. Bem sei que as alterações são cada vez mais rápidas e bruscas, mas o covid-19 impulsionou as mudanças que se adivinhavam para os próximos anos e, num passe de mágica, tornou-as presente. E que presente!! Estamos confrontados com um novo normal em que se espera que cada um de nós se comporte como uma ilha, fechado na concha, reduzindo o contacto físico com o exterior. De uma assentada, formas de trabalhar, modelos de empresa, mobilidade, relacionamento social…tudo mudou. No meio de tudo isto, que seria de nós sem a internet??
Começamos agora a regressar ao normal, mas, a “nova normalidade” é, convenhamos bastante bizarra. Ontem, de uma ida ao supermercado trouxeram-me uma viseira! Hoje, ofereceram-me um kit de gel desinfetante e máscaras. Encontram-se os amigos e os familiares num misto de entusiasmo e de “chega para lá”. Descobrem-se os interiores das casas de todas as figuras públicas. Sorrimos perante as contradições em que as autoridades de saúde regularmente incorrem. Resignamo-nos perante a inevitável proibição de festivais, manifestações, peregrinações, romarias. Indignamo-nos com a falta de consciência cívica de alguns. Maravilhamo-nos com os concertos online. Preocupamo-nos com as limitações de acesso à praia… já nem falo do regresso condicionado ao trabalho, à escola, ao desporto, tudo sobrecarregado de protocolos de segurança e de muitas incertezas.
Esta crise afectou as pessoas e os grupos sociais de forma diferente. Para uns é o aborrecimento do confinamento para outros, é o seu modo de vida, o seu sustento que está em causa. Todas as crises provocam o agravamento das desigualdades sociais. Importante é, evitar que essas desigualdades se tornem permanentes.
Os jovens vão ser, mais uma vez, apanhados por uma crise que lhes roubará salários, emprego, expectativas profissionais e se, não aprendermos as lições do passado, a retoma da economia poderá implicar condições de trabalho mais precárias e redução dos gastos sociais e, um futuro do trabalho mais tecnológico e desumanizado. Se tivermos aprendido com a história das crises recentes perceberemos o quão importante é apoiar os rendimentos das pessoas, as empresas e o emprego e perceberemos que o diálogo social -incluindo a negociação colectiva- é um instrumento crucial para encontrar as melhores soluções para os desafios societais que o novo normal nos obrigará.
CRÓNICAS DISTO E DAQUILO
Catarina Tavares
Dirigente Sindical