O que será que será?

Como dizer farto disto sem dizer farto disto? Um esperar aflito. Um não saber da real dimensão de uma paragem de um país inteiro. Nunca aconteceu. Por isso quem pode saber? Ninguém vivo. E os mortos não participam nos programas de opinião. Apenas são citados para mostrar sabedoria.

Como avaliação ficam então os números do presente. Os que temos. Números do lay off em particular. Diferentes dia a dia mas todos a tocar 1 milhão. E ainda um enigma.

Uma espécie de enigma do lay off. Certo é que foi (é) uma medida mais do que necessária, generosa até. Uma medida que empurrou o desemprego para o futuro. E o problema é que o futuro, afinal, é já hoje. Chegou agora mesmo.

Saber se salvámos realmente o emprego fará toda a diferença. Esse enigma ainda sem resposta vai medir (ou não) o sucesso do que foi feito.

Sabemos que o que vem vai ser difícil. Mas sabemos também que nunca houve tanta qualificação à solta. Deixemos essa qualificação tomar o poder. Nas pequenas e nas grandes empresas. Nas instituições e na sociedade. Não conheço outra forma de fomentar a mudança. E essa mudança é a base da sustentabilidade.

Para que a sustentabilidade não seja só conversa deixemos chegar aquilo que não é a repetição. A radiografia de hoje pede o amanhã. E o amanhã tem o rosto de quem ainda tem tudo para dar. Precisamos de diferente.

Depois ficámos a saber muito sobre a fragilidade. A fragilidade sim é o velho normal. E a partir do que sempre foi devemos talvez não apostar tanto em tão pouco. Diversificar. Sermos mais independentes. Como país e como continente. Estarmos mais perto. Quem produz e quem consome.

O que temos hoje? Pistas. Só pistas. Vislumbres do que pode ser. Imagens ainda difusas do que quer (quer?) voltar ao antes.

“O que será que será

Que dá dentro da gente que não devia

Que desacata a gente que é revelia

Que é feito aguardente que não sacia

Que é feito estar doente de uma folia

Que nem dez mandamentos vão conciliar

Nem todos os unguentos vão aliviar

Nem todos os quebrantos toda alquimia

Que nem todos os santos será que será

O que não tem descanso nem nunca terá

O que não tem cansaço nem nunca terá

O que não tem limite”

Chegou o Chico (Buarque de Holanda) e tudo explicou.

Ou talvez não. Esperemos então. O que será que será e está quase a chegar. Chegará. E visto daí não terá sido tão mau.

Apenas terrível para quem ficou e não voltará.

Apenas um incómodo para quem sempre teve reservas.

E apenas assustador para quem sempre foi acossado pela miséria.

O que será que será?

 

TURISMO SEMMAIS
Jorge Humberto
Colaborador