Numa fração de segundos, enquanto o olhar é seduzido por várias ofertas, a capa do jornal tem de cumprir essa função mágica: atrair a atenção, impor a sua identidade e, fundamentalmente, ser a escolha entre as várias opções. No rosto, concentra-se um conjunto de múltiplos desafios, fazendo confluir as competências do design gráfico ao serviço do projeto editorial. No rosto, juntam-se apelos visuais, devidamente dispostos através de um diagrama, fazendo resultar uma (desejável) harmonia de elementos formais e de conteúdo. A narrativa resulta num layout da publicação, na afirmação de um template que incorpora opções estéticas sistematicamente atualizadas, edição a edição.
A partir do momento em que os traços identitários são definidos, está encontrada a moldura que sofre, periodicamente, as alterações que a atualidade impõe e que exigem aos responsáveis editoriais, designers e jornalistas a enorme capacidade de permanente reinvenção. No caso do Semmais, há “evidências” que traduzem a expressão formal e que formatam a apresentação dos conteúdos.
A estratégia maior do Semmais, tem na manchete, e como não podia deixar de ser, a componente rainha: mais de metade da capa corresponde ao assunto de destaque, a notícia surge complementada com fotografia, por vezes com ilustração; o título variando entre cinco a oito palavras. As apostas editoriais de segundo plano aparecem, com regularidade, com três notícias destacadas, subtilmente enquadradas em três colunas, geometricamente perfiladas; inclusão de ícones representativos dos temas das notícias destacadas; afirmando a auto-promoção do jornal, e, apenas por uma vez, um encarte publicitário no rodapé. Analisados dois meses de capas do Semmais, no período entre abril e maio, constata-se oito edições, mantendo estas o conjunto normativo acima descrito.
Do visto, e analisado, sublinho sintomas que merecem atenção e apuro por parte de todos os envolvidos: o monotema assinala a aposta editorial, o recurso a fotografia de grande plano, por vezes, intencionalmente difusa, revelando preocupações estéticas com tendência repetitiva; a ilustração, como recurso instrumental, é sinónimo de apuro e eficácia na mensagem. Deixo para o fim o fator de principal estranheza: durante dois meses de edições, o Semmais, não coloca um rosto na primeira página. É certo que o elemento humano está presente mas, de forma assumida, com face, linhas e estórias para contar, não surge um protagonista que me fite o olhar, e me envolva para os lugares da reportagem. Não serei o único a desejar esta presença, sempre fator de aproximação, partilha e cumplicidade!
PROVEDOR DO LEITOR
Ricardo Nunes
Professor
Contacto do Provedor: ricardo.melo.nunes@gmail.com