As escórias de Vale da Rosa, em Setúbal, que estão a ser analisadas a pedido da associação ambientalista Zero, foram depositadas no local para serem usadas nas obras de arruamento do projeto “Nova Setúbal”, que nunca chegou a arrancar.
É muito provável que as escórias encontradas em Vale da Rosa, na zona oriental de Setúbal, junto ao Complexo Desportivo Municipal, não venham a apresentar nenhuma carga de perigosidade”, garantiu ao Semmais um antigo administrador da Pluripar, SGPS, empresa responsável pela deposição daquela quantidade de “pedra” no local.
A transferência do material ter-se-á dado entre 2005 e 2006, altura em que o grupo de empresários da região que formavam a cúpula da Pluripar, SGPS, detinham a posse dos terrenos de Vale da Rosa (agora nas mãos do BCP devido à falência do grupo, também ligado à SNL/BPN), para onde estava previsto a edificação da gigantesca Urbanização Nova Setúbal, com 7700 fogos, uma enorme área comercial e um projeto de deslocalização do estádio do Bonfim. “Foi nesse enquadramento e com esse objetivo que esse material foi ali depositado pela Eurominas”, disse a fonte contatada pelo Semmais, solicitando anonimato, por se ter afastado do processo há mais de quinze anos.
Segundo a mesma fonte, terá sido uma empresa de construção civil e obras públicas do distrito a tratar da operação, tendo mesmo colocado uma britadeira no local para “partir a pedra” e, deste modo, prepará-la para ser usada como “capa ou subcapa” dos tapetes que iriam construir nos arruamentos do empreendimento Nova Setúbal. “Este material é próprio para usar na construção de estradas, em vez de ‘tout-vernant’, termo de origem francesa referente a material de mina ou pedreira antes de qualquer tratamento.
Esta e outras fontes garantiram mesmo que “não se trata de modo algum das escórias de alumínio da Metalimex, com andam para aí a dizer”, sendo que, afirmaram, “não há nenhum grau de perigosidade”. A única dúvida, assegura o antigo gestor da Pluripar, agora reformado, “é se foi colocado ao longo dos anos mais algum tipo de material em cima daqueles detritos”.
Segundo outra fonte contatada pelo Semmais, que esteve igualmente na primeira operação, a própria Eurominas, de onde, presumivelmente, são originárias estas escórias, detém em seu poder “análises laboratoriais que comprovam isso mesmo”. E acrescenta: “São escórias utilizáveis e não poluentes, que podem ser utilizadas em caminhos nas juntas de freguesia, ou para abrirem aceiros por causa dos fogos”.
Autoridades dividem-se, mas processo está a decorrer
Oficialmente, ainda não se sabe que tipo de resíduos se encontram depositados ilegalmente no antigo terreno em Vale da Rosa. Foram recolhidas amostras há cerca de duas semanas e, provavelmente, só daqui por mais um mês é que se deverá saber se as toneladas de materiais acumuladas a céu aberto são ou não nocivas para a saúde.
Em declarações ao nosso jornal, o deputado socialista André Pinote Batista, que integra a Comissão do Ambiente da Assembleia da República, garantiu que o Ministério do Ambiente “já ordenou a retirada dos resíduos ali acumulados há mais de 30 anos”, isto apesar de ainda não estar comprovado que os mesmos são nocivos para a saúde.
O deputado, que integrou um grupo do PS que esta semana visitou o terreno, garante que não existe nenhuma prova de que o material abandonado sejam as escórias de alumínio que foram importadas por um particular em 1987 com o intuito de serem transformadas em lingotes e que, por determinação legal, terão sido devolvidas em 1990. “Podem ser escórias de alumínio ou outra coisa qualquer. Até agora ninguém sabe. Mas se for algo nocivo para a saúde existirão sempre procedimentos”.
“A Associação Zero (que fez a denúncia da existência dos resíduos na zona) diz que as escórias que se encontram no terreno da antiga Metalimex e que agora pertence ao BCP, são de alumínio. Isso não é claro. E até a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, e o antigo presidente da junta de freguesia daquele local, Eusébio Candeias, já ameaçaram avançar com ações em tribunal por estarem a ser levantadas suspeições”, disse o deputado.
“Existe um ato ilegal, que é a deposição a céu aberto de materiais que ainda não sabemos o que são, daí que a remoção já tenha sido ordenada. De momento ninguém pode dizer se aquilo é perigoso ou não, mas a verdade é que o Ministério do Ambiente já ordenou que fosse retirado”, concluiu.