Em maio, tal como por toda a Europa, havendo 3 meses de confinamento que levou ao controlo da pandemia, compreendendo que esta travagem a fundo da economia não podia continuar sob pena de entrarmos numa recessão brutal com custos inimagináveis, o Governo decide começar a desconfinar. Abrimos as creches a 18 de maio, seguindo-se o pré-escolar, os restaurantes e o pequeno comércio no início de junho, e já posteriormente os ATL e os centros comerciais.
Com estas medidas também o teletrabalho foi sendo abandonado em algumas empresas e serviços e os transportes públicos voltaram aos seus horários normais e a uma maior afluência de utilizadores.
E é neste período de desconfinamento que aumentam os números e surgem os focos de contágio na Área Metropolitana de Lisboa. Conclui-se, com preocupação, que há em determinados concelhos, como Lisboa, Sintra, Amadora, Odivelas e Loures um número elevado de pessoas contaminadas. Também na margem sul há focos em concelhos como Seixal e Almada.
As campainhas tocaram, e a ação da saúde pública fez-se sentir de imediato, como pudemos constatar no encerramento dos cafés no bairro da Jamaica no Seixal, ou nas ações de rastreio nas grandes obras de construção civil.
A dura verdade é que há um conjunto de pessoas, muitas delas provenientes destes territórios que estão agora na linha da frente do contágio, que não fizeram confinamento, porque o trabalho que realizam não permitiu, nem permite, teletrabalho. Muitas delas estiveram sempre na linha da frente das respostas essenciais para que o país funcionasse nos últimos meses, como os trabalhadores das plataformas logísticas, da higiene urbana ou das limpezas.
O desconfinamento trouxe consigo estes focos de contágio e a crua realidade dos territórios mais desfavorecidos da Área Metropolitana de Lisboa. As pessoas vivem em casas pequenas, muitas vezes sobrelotadas onde o confinamento se torna difícil, por outro lado nunca deixaram de andar de transportes públicos que agora, com a abertura da economia, começam a estar cheios nas horas de ponta, sem que o distanciamento social possa ser cumprido, apesar da utilização generalizada de máscara.
A verdade é que o vírus não é neutro naqueles que contamina, porque fatores como a insalubridade e a lotação das habitações, a necessidade de utilizar o transporte público permanentemente ou as carrinhas das empresas de construção civil nas deslocações para o trabalho, durante todo este tempo em que a maioria da classe média ficou em casa em teletrabalho, contribuiu para focos de infeção que neste momento são difíceis de controlar.
Quando abrimos ao desconfinamento a mensagem mais importante que tem de ser apreendida é que mais liberdade leva a mais responsabilidade individual. Os nosso comportamentos e práticas fazem toda a diferença na forma como o vírus e a pandemia se propaga agora e no futuro. E neste contexto ajuntamentos e festas como tem acontecido, com grande participação de jovens, é também um risco para o descontrolo da pandemia.
E esta é a mensagem da responsabilidade individual e coletiva que temos que ser capazes de concretizar. Se por um lado as pessoas, individualmente, têm que continuar a manter comportamentos de segurança e distanciamento social, não participarem em festas e ajuntamentos, também o Estado tem que autuar quem prevarica e assegurar segurança nos transportes públicos, ter mais autocarros e carruagens de metro e comboio nas horas de ponta, para que as condições de segurança de todos, independentemente dos seus rendimentos e condição social, seja garantida.
Catarina Marcelino
Deputada do PS
Ex-Secretária de Estado para a Cidadania e para a Igualdade