Enfermeiros alertam para rutura no Hospital do Litoral Alentejano

O verão e a pandemia podem acentuar as dificuldades de funcionamento do hospital. Sindicato dos Enfermeiros e Câmara de Santiago do Cacém reclamam contratações urgentes por parte do Ministério da Saúde.

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) diz que é urgente a contratação de mais profissionais para trabalharem na ULSLA – Unidade Local de Saúde Litoral Alentejano, em Santiago do Cacém. Se tal não acontecer com brevidade, diz aquela entidade, os serviços poderão colapsar durante o período de verão, quando se espera um maior afluxo de pessoas, e também devido ao aumento de atendimento de utentes com Covid-19.

“Tem de se fazer um reajuste imediato da situação. Se tal não for feito, não sabemos como será possível prestar serviço hospitalar durante o verão, quando aumentar o número de pessoas na região. Além disso a falta de respostas eficazes neste contexto pandémico é evidente”, disse ao Semmais a dirigente sindical Zoraima Prado.

Apesar de ter havido autorização para a contratação de profissionais de saúde, “o saldo de admissões nesta instituição é zero”, lamentou.

A falta de pessoal de enfermagem neste hospital é, de resto, um problema que já se arrasta há muito. Zoraima Prado diz que a própria administração que agora cessou funções já antes reconhecera que o quadro é deficitário em 110 efetivos.

A mesma opinião tem o presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha. “O hospital tem 16 anos e foi construído de raiz. No entanto existe um problema de fundo que nunca foi solucionado: a falta de recursos humanos”, disse.

Para Álvaro Beijinha a solução terá que ser encontrada pelo Ministério da Saúde que, afirma, terá de arranjar incentivos para que médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar possam ir trabalhar para a região. “O hospital não serve apenas a população de Santiago do Cacém. Serve cerca de 100 mil pessoas de diversos concelhos. Além destas pessoas, temos de ter em conta que esta é uma região turística, que aumenta em muito a população durante o verão, e que tem também milhares de pessoas a trabalhar no Porto de Sines e que não estão contabilizadas nos rácios. A resposta que agora temos está longe de ser a desejável e reflete-se nos tempos de espera, para consultas, cirurgias, etc”, acrescentou o autarca para explicar a necessidade de se reforçarem os quadros do pessoal clínico.

 

Substituição da administração apanhou de surpresa a autarquia

Se os protestos do SEP não são propriamente uma novidade, já a substituição do conselho de administração do Hospital do Litoral, que na cessou funções no final do de quinta-feira, apanhou de surpresa o presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

“Sabia que existia essa possibilidade, mas não estava informado que ocorreria na quinta-feira”, disse Álvaro Beijinha. O autarca vai mesmo mais longe e afirma que nem sequer sabe quem preside ao novo concelho de administração.

Em declarações ao Semmais, o administrador cessante, Luís Matias, diz que a sua equipa já cessara o contrato no final do ano. “Sobre o protesto organizado pelo sindicato dos enfermeiros nada posso dizer, porque findámos ontem as nossas funções. Aliás, estou agora a saber que houve um protesto”, disse.

Fazendo um balanço dos três anos e meio em que o seu concelho de administração se manteve em funções, Luís Matias considerou que o trabalho desenvolvido foi positivo, pois só assim se justifica que a sua equipa tivesse permanecido tanto tempo em funções quando outros conselhos administrativos, excetuando o primeiro, ficaram no local, em média, apenas por seis meses. “Trabalhámos bastante e transmitimos a ideia de estabilidade, tendo até construído uma nova urgência, que está a ser totalmente utilizado nos serviços da Covid-19, e que nem sequer teve uma inauguração”, afirmou.

A próxima presidente do conselho de administração do Hospital do Litoral Alentejano será Catarina Arismendi. Luís Martins vai regressar ao Centro Hospitalar de Póvoa de Varzim/Vila do Conde.

 

Caixa

“Job for the boys”

A nomeação do socialista Pedro Ruas, antigo presidente da Junta de Freguesia de Azinheira de Barros, para integrar a equipa dos cinco novos administradores do Hospital do Litoral foi recebida “com muito desagrado” pelo presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém. “É uma nomeação política que não tem em conta as necessidades que o cargo exige”, disse ao Semmais o autarca, não se coibindo mesmo de dizer que se está em presença de “mais um job for the boys”.