Os intermediários são tidos como fundamentais na aproximação entre famílias e sistema escolar. Os ciganos frequentam com assiduidade o pré-escolar e o 1º ciclo. Em 2018/19 havia 1874 alunos da etnia nas escolas do distrito.
As crianças de etnia cigana residentes no distrito, à semelhança do que sucede no resto do país, estão cada vez mais integradas no sistema educativo. A taxa de sucesso, comparando os anos letivos de 2016/17 e 2018/19, está a subir consideravelmente, apesar de se notarem ainda percalços na passagem dos ciclos. Para que a integração seja melhor, falta agora, dizem os especialistas, que o Estado invista mais nas escolas, nomeadamente através da contração de intermediários que sejam ciganos e que façam as ligações entre as escolas e as famílias.
O número de ciganos residentes no distrito está calculado em, pelo menos, 6.000. Este valor corresponde a cerca de um décimo do total da população da etnia que reside em Portugal. Setúbal é, de resto, juntamente com Lisboa, Alentejo e a região de Bragança, o local que acolhe as maiores comunidades (muito numerosas, sobretudo, nos concelhos de Almada, Setúbal e Seixal, onde estão contabilizadas, respetivamente, 323, 217 e 105 famílias).
O Perfil Escolar da Comunidade Cigana, documento que traça a evolução escolar das crianças da etnia, diz que no ano escolar de 2018/19 o distrito tinha inscritos no pré-escolar 242 crianças. Havia também 1600 no ensino básico e 32 no secundário. Estes são valores, segundo disse ao Semmais a ex-secretária de Estado para a Igualdade e Cidadania, Catarina Marcelino, “bastantes animadores”, porque revelam um aumento da integração e demonstram também “uma acentuada mudança dos hábitos culturais que se está a verificar há cerca de 20 anos”.
“É importante referir os números do ensino pré-escolar e também os da frequência do primeiro ciclo, que já ultrapassa os 90%”, adiantou Catarina Marcelino. “Os problemas, no entanto, ainda existem e notam-se, sobretudo, nas passagens de ciclos. Não se trata apenas da quase inexistência de ciganos a frequentar o ensino superior ou mesmo o secundário. Trata-se de conseguir que a maior parte cumpra o ensino obrigatório”, referiu.
Especialista defende ser necessário colocar a etnia na História
A ex-secretária de Estado, assim como a presidente da Associação Letras Nómadas, sediada no Seixal, Olga Mariano, entendem que o passo que deve ser dado passa pela contratação, por parte das escolas e do Estado, de intermediários que possam levar até às famílias toda a informação escolar. “O Governo tem de concluir o diploma que prevê os intermediários escolares”, diz Catarina Marcelino. “É fundamental que a comunidade cigana tenha a sua existência relatada na História de Portugal”, afirma por sua vez Olga Mariano.
Interpelado pelo Semmais, o secretário de Estado da Educação, João Costa, confirmou que o Ministério pretende legitimar a atividade dos intermediários, reconhecendo-lhes méritos na integração e aproveitamento escolar. O governante deu mesmo o exemplo da Escola de santo António, no Barreiro, onde existe um intermediário cujo trabalho tem sido reconhecido como bastante profícuo.
“Os bairros e as escolas não devem ser guetos nem espaços mono culturais. É necessário integrar as crianças ciganas com as restantes. Devem existir transportes e todo o tipo de ações que promovam a aproximação ao meio educativo, nomeadamente as que expliquem a proveniência da etnia (chegaram a Portugal no século XV), que imposições lhes foram feitas e porquê”, acrescentou Olga Mariano.