Os futuros jovens serão diferentes dos antigos jovens. Não e sim. E não, não é o novo normal. É o normal de sempre. A criatividade é a juventude de sempre. De ontem, de hoje e de amanhã. Porque a criatividade (podem substituir criatividade por cultura) sempre nos salvou.
E assim a 19 de junho, uma sexta-feira, tivemos direito ao 39 capítulo da discografia de Bob Dylan. Rough and Rowdy Ways de seu nome. 10 temas para revisitar a América dos Estados Unidos.
10 temas, um deles (Murder Most Foul) com quase 17 curtos minutos. Esse mesmo a contar a história de um crime. 1963, Dallas. E JFK saiu da história e entrou no mito. Agora Dylan conta a história. E aproveita para um “deve e haver” do século XX. E de passagem, porque o XX foi um século americano, adivinha o mundo e perscruta a natureza humana.
O tempo não podia ser mais propício. A natureza humana está à prova.
Dylan traça uma linha e diz quem são os seus. E os seus são imortais. Mais ou menos conhecidos. John Lee Hooker, Oscar Peterson, Stan Getz, Thelonious Monk, Charlie Parker, Stevie Nicks, Nat King Cole. Ou mais ou menos mitos como Lady Macbeth, The Rolling Stones, Anne Frank, Robert Johnson, Walt Whitman, Marilyn Monroe e até Indiana Jones.
Dylan propõe-nos um programa a partir de nomes. Não um programa para o futuro. Mas um roteiro de um passado a que ainda não chegámos.
O outro jovem é o Festival de Almada. Está a comemorar 37 anos. E, tal como Dylan, resiste como respira. Mesmo contra todas as probabilidades não falhou 2020.
37 programações, nem menos uma, a apresentar também os seus.
Também imortais como Tennessee Williams pelos olhos de Carlos Avillez ou Molière pela sensibilidade de João Mota.
Dylan a olhar o teatro teve, este ano, uma peça na Broadway (“Girl from the North Country”) com música sua. O tema era a depressão de 1934. Soubemos pelo New York Times que o homem que faltou ao Óscar e ao Nobel não faltou ao teatro mesmo que anonimamente.
O mesmo teatro que em Almada não faltou ao seu público. Talvez um dia Dylan encontre Almada. Talvez para ver uma peça daquele William herói de ambos. Aquele mesmo que no Hamlet escreveu: “Ghost: Murder most foul, as in the best it is. But this most foul, strange and unnatural.”
Dois jovens portanto.
TURISMO SEMMAIS
Jorge Humberto
Colaborador