Mais de 161 mil utentes do distrito de Setúbal não têm medico de família

Setúbal é um dos distritos do país com maiores carências em matéria de cuidados de saúde primários. Mais de 161 mil pessoas não têm médico de família. O Litoral Alentejano é a zona que mais se ressente.

São mais de 161.500 os utentes do distrito de Setúbal sem médico de família. Segundo dados do Governo, publicados no Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a região é uma das mais castigadas pela falta de clínicos nos cuidados de saúde primários.

No final de setembro estavam inscritas nos centros de saúde 898.676 pessoas, das quais 737.079 tinham médico de família, sendo que as restantes 161.597 não tinham qualquer profissional de saúde definido. Ou seja, quase 18% dos utentes.  Número que, ainda assim, tem vindo a diminuir desde 2016.

Contudo, se entre os inscritos há mais de 161.500 utentes sem clínico fixo, em rigor, há que considerar que 1.799 destes fazem questão de não o ter, por opção própria.

No que diz respeito aos ACES, Agrupamentos de Centros de Saúde, o chamado Arco Ribeirinho (que abrange os concelhos de Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo), é o mais problemático. No final de setembro, de acordo com os dados da tutela, estavam contabilizados 53.068 beneficiários sem clínicos alocados. Também o Agrupamento de Centros de Saúde da Arrábida (onde se integram Palmela, Sesimbra e Setúbal), dava conta de 51.088 pessoas na mesma situação.

O problema abrange também Almada/Seixal onde há mais 45.500 utentes sem médico de família, assim como o Agrupamento de Centros de Saúde do Alentejo Litoral onde a carência atinge 15.132 pessoas.

 

Litoral Alentejano é o território do distrito com mais carências

Apesar deste agrupamento apresentar os números mais baixos do distrito, a verdade é que foram os concelhos de Alcácer do Sal, Sines, Grândola e Santiago do Cacém, que constituem a ACES Alentejo Litoral, aqueles que assinalaram, nos últimos anos, uma maior falta de clínicos. Entre 2016 e setembro deste ano, registou-se uma subida de 31%.

Por outo lado, a pandemia pode ter enfraquecido o papel dos centros de saúde. Os dados disponíveis revelam quebras inferiores a 1% no total de inscritos e um aumento de 3,9% do número de utentes sem médico.

Comparando setembro de 2020 e o período homólogo do ano anterior, é possível perceber uma diminuição no total de inscritos (menos 4.204), cerca de 0,5%, e também de utentes sem clínico atribuído (menos 19.644), uma quebra de 2,6%. Mas o facto mais relevante é a subida do número pessoas sem médico de família, que cresceu quase 12% (são mais 17.165), sobretudo durante o período da pandemia.

A atual situação poderá vir a ser “mais complicada”, alerta ao Semmais Roque da Cunha, do Sindicato Independente dos Médicos, lembrando que “nos próximos três anos, no distrito, cerca de 1.400 médicos de família se irão reformar”, deixando uma enorme dúvida quanto aos utentes que por estes profissionais são acompanhados.

O sindicalista aponta ainda o dedo às dificuldades na contratação, revelando que “450 novos clínicos concluíram a especialidade e aguardam, há quatro meses, a conclusão do concurso público que lhes irá garantir colocação no SNS”.