Aumenta o número de animais acolhidos pelo Centro de Recuperação de Santo André

O Centro de Recuperação de Animais Selvagens de Santo André (CRASSA), localizado no concelho de Santiago do Cacém, registou este ano “um grande aumento de animais acolhidos”.

Desde o início deste ano e até à segunda semana de outubro, o centro, gerido pela associação ambientalista Quercus, recebeu 266 animais feridos, mais do dobro da média dos últimos dois anos.

“Em 2018, recebemos 128 animais; em 2019, tivemos um número muito parecido (131), mas este ano registámos um grande aumento, tendo já contabilizado 266 animais”, explicou à agência Lusa a bióloga Carolina Nunes.

Para a coordenadora do centro, que integra a Rede Nacional de Centros de Recuperação de fauna, sob a tutela do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), isto “deve-se bastante à pandemia, não só por as pessoas estarem mais atentas ao que se passa à sua volta, mas também pelo encerramento do centro de recuperação de Lisboa”.

“O CRASSA passou a receber os animais que não podiam ser acolhidos no centro de Lisboa, que encerrou durante algum tempo, devido à pandemia, mas tivemos também muitos particulares que encontraram os animais feridos perto das suas habitações e desenvolvemos algumas campanhas de sensibilização que ajudaram a divulgar o nosso trabalho”, justificou.

Os animais que chegam ao Centro de Recuperação, a maioria crias de aves de rapina, como águias, corujas ou mochos, e cegonhas, apresentam “inúmeras debilidades”.

“A maioria são crias de aves, ou porque os pais abandonam o ninho, ou porque o local onde o ninho está construído é danificado, acabam por sair precocemente, ficam debilitadas e desorientadas e ingressam no nosso centro”, explicou.

São “casos relativamente simples de recuperar porque os animais chegam apenas fracos e debilitados”. Nesse caso, é necessário “ter a certeza de que, sem se habituarem demasiado à presença humana, crescem ao ponto de conseguirem voar, abrigar-se e alimentar-se de forma autónoma para regressarem à natureza”.

As fraturas também são responsáveis pelo grande número de animais tratados no CRASSA, muitas vezes “encontrados nas bermas das estradas com patas e asas partidas”, sendo que o período de recuperação “varia entre uma semana e três meses”, consoante a gravidade dos ferimentos.

“Quando a lesão não resulta em danos internos, são libertados em poucos dias. Quando sofrem fraturas ficam internados entre dois e três meses e se necessitarem de fisioterapia podem ficar mais tempo”, referiu.

Os animais são recolhidos pelo Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR, pelos vigilantes da natureza do Instituto Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e por particulares.

Segundo a bióloga “o que mais dificulta o trabalho dos centros de recuperação é o desconhecimento” por parte das pessoas que não sabem quais os procedimentos que devem adotar quando encontram um animal ferido.

“Para nós a sensibilização é tão importante como a recuperação dos animais porque se as pessoas não souberem que autoridades devem contactar, que não devem alimentar os animais ou levá-los para casa, não conseguimos fazer o nosso trabalho”, notou.

Devido à pandemia, o CRASSA, que recebe animais dos distritos de Setúbal e Beja, viu limitada a “capacidade de receber estagiários nacionais e internacionais, voluntários e atividades de sensibilização”, optando por desenvolver ações de libertação de animais e de angariação de donativos para alimentação dos animais e aquisição de equipamentos.