Buscar as heranças da terra e das gentes

Esta edição está pejada de História que, vista com todos os olhos, assenta em toda a alma alentejana e faz desta terra quente um indescritível roteiro de um passado muitas vezes ainda por descobrir.

Do tanto que já conhecemos, desde os endovélicos, de Terena, aos vestígios romanos, às façanhas árabes, às conquistas cristãs, à vincada presença do judaísmo e às lutas com Castela, há tanto ainda por descobrir, inventariar, dar forma e expor à luz do dia.

São viagens ao passado e pedaços de História com que se tropeça nestes quase 32 mil quilómetros quadrados, de deslumbre e encanto, numa rica e misteriosa amostragem do seu passado glorioso.

Bem sabemos, e disso damos nota nesta edição – como já o fizemos em tantas outras – que muito tem sido feito para trazer à tona do esquecimento essas heranças que fazem parte da alma e das raízes do Alentejo no seu todo. Mas, é preciso fazer mais. E sabemos também que, à sua medida, cada concelho tem feito o melhor que pode. Mas é preciso fazer mais.

É urgente investir na descoberta e sistematização dos enredos históricos que unem vastos territórios da região, impulsionar escavações arqueológicas em sítios que estão desde há muito identificados, e tantas outras iniciativas e ações que poderiam ajudar a resgatar essa dimensão histórica e cultural que tanta nos dá alma.

E há muitas vantagens neste empreendimento, a prazo, porque a tarefa é estoica, necessária e assegura o futuro de pedras vivas na memória dos vindouros. Dá emprego, fixa quadros qualificados e faz perdurar essa imensidão no tempo.

Será também uma forma de aproveitar pequenas franjas dos fundos comunitários num esforço que pode ‘obrigar’ a juntar Estado, administração intermédia, autarquias e universo politécnico, universitário e científico.

Porque não tornar esta empreitado num desígnio maior, devolvendo à terra alentejana e às suas gentes heranças escondidas, num projeto alargado que poderá ser um trunfo para a economia, um alento para o problema do despovoamento e um filão para o turismo.

Raul Tavares
Diretor