Crise na restauração da península de Setúbal ameaça 40 mil pessoas

O futuro é negro e muitos empresários não vão conseguir manter as portas abertas em 2021. Reclamam-se apoios fiscais urgentes ao Estado.

Entre 40 a 50 por cento dos estabelecimentos de restauração da península de Setúbal poderão não reabrir já em janeiro do próximo ano. A confirmarem-se as piores expetativas, o setor poderá mandar para o desemprego metade dos seus funcionários, ou seja 40 mil pessoas. As dificuldades económicas acentuadas pela pandemia explicam a crise, mas os empresários não poupam críticas ao Governo que, dizem, não auxilia como devia.

“Vivemos momentos de terror. Isto é um autêntico tsunami”, diz ao Semmais Mauro Ribeiro da Silva, presidente da delegação da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) de Setúbal. “A situação é de tal modo grave que, neste momento, ninguém sabe como vai pagar o subsídio de Natal aos funcionários que ainda estão a trabalhar”, afirma.

Joaquim Feliciano, proprietário de um restaurante na Charneca da Caparica que reduziu a capacidade de 340 para 170 lugares, também faz contas à vida. “As minhas despesas fixas, sem os valores das compras, já foram de 90 mil euros, são agora de 75 mil. Calculo que este mês o prejuízo seja na ordem dos 25 mil euros, o dobro do que foi no mês passado”, explica, acrescentando que os 70 ou 80 jantares diários que agora serve já inviabilizaram a manutenção dos habituais 45 funcionários, restando apenas 31.

 

Empresários apontam o dedo ao Estado e lançam vários alertas

“O Estado devia baixar o IVA e a Segurança Social devia de ser condescendente. Não basta virem dizer que vão dar 20 por cento sobre uma média calculada entre os meses de janeiro e outubro, que como todos sabemos foram muito maus, porque o valor apurado nem sequer vai chegar para pagar o gás”, adianta Joaquim Feliciano.

As críticas às entidades estatais são igualmente feitas por Daniel Piedade, proprietário de dois estabelecimentos em Sesimbra (preparava-se para inaugurar um terceiro quando a pandemia foi declarada) e delegado local da AHRESP. “O Estado não está a ajudar nada. O IVA tem de ser pago no dia certo, tal como o IRS e a Segurança Social. Se assim não for há multas e juros. Neste momento devia de existir maior flexibilidade, porque os empresários não estão sequer a conseguir fazer receitas para manterem os estabelecimentos abertos e para aguentarem os postos de trabalho”, adiantou ao nosso jornal o mesmo empresário, acrescentando que, “quase de certeza que quem tem encargos bancários não os vai conseguir pagar durante muito mais tempo”.

Ainda relativamente aos empregos que estão em vias de serem perdidos, Mauro Ribeiro da Silva alerta para o facto de “muitas das pessoas que trabalham na restauração não terem especialização alguma e já têm alguma idade, pelo que no futuro, quando a atual situação for ultrapassada, poderão não ter grandes hipóteses de voltarem a arranjar emprego”. “Esta é mais uma razão para que o Estado faça agora tudo para preservar os empregos que ainda restam. Para que isso seja possível devia, por exemplo, ser reduzida a TSU no setor da restauração”, atesta.

O presidente da AHRESP de Setúbal diz, por fim, que em outubro deste ano, fazendo a comparação com o mesmo mês em de 2019, “houve perdas médias de 50 por cento”.