O concelho de Setúbal e as zonas mais agrícolas são as de maior risco. Burlas e furtos são os crimes mais praticados.
Há, em todo o distrito de Setúbal, 2035 idosos identificados pela GNR que vivem isolados e que se encontram mais expostos à prática de diversos crimes ou mais sujeitos a problemas de saúde cuja solução pode não ser imediata. Estes são os resultados dos Censos Sénior 2020, operação que as autoridades policiais efetuam anualmente para assim melhor controlarem uma faixa etária da população considerada de risco mais elevado.
“Os concelhos de maior risco são, por norma, os mais rurais. A única exceção costuma ser o concelho sadino, que possui um grande número de idosos que vivem sozinhos”, disse ao Semmais um responsável da GNR que pediu o anonimato. As estatísticas oficiais referem ainda que Setúbal é o décimo distrito do país com maior número de idosos em risco, sendo que o primeiro é Vila Real, com 5065 pessoas identificadas.
Dentro do distrito, para além dos idosos identificados na capital, registam-se especiais preocupações com seniores dos municípios de Santiago do Cacém e de Sines. “É natural que assim seja. São concelhos rurais, muito extensos e com menor densidade populacional”, referiu o mesmo responsável.
Em declarações ao Semmais, o capitão Santana, do Destacamento Territorial de Setúbal, referiu que por vezes as patrulhas deparam-se com pessoas com “carências afetivas e dificuldades de comunicação”, havendo também casos de “riscos associados ao consumo de álcool e de más condições de habitabilidade e higiene”.
Predominam as burlas e furtos nos crimes contra os seniores
Quanto aos crimes que são mais praticados contra esta franja da população, a fonte contactada que pediu para não ser identificada referiu as burlas e o furto, salientando, no entanto, que em alguns casos há também roubo (os quais se distinguem dos furtos devido à utilização de força, seja física ou psicológica). “A velha história das notas que vão sair de circulação e que precisam ser trocadas continua a ser muito utilizada. Também existem aqueles casos em que um indivíduo distrai as pessoas à porta da rua, enquanto outro tenta entrar em casa à procura de dinheiro, ouro ou outros valores”, mencionou.
“O que se deve evitar sempre é oferecer resistência, pois infelizmente há registo de agressões e, noutros anos, até de mortes. As pessoas devem evitar guardar em casa grande quantias de dinheiro ou outros bens e nunca devem facultar a entrada em casa a quem se apresenta dizendo que vai ali fazer qualquer serviço que não foi pedido ou avisado”, sugeriu a mesma fonte policial.
Quanto ao modo como a vigilância policial é efetuada, o mesmo resulta muito do facto de os idosos poderem estar ou não a ser seguidos por instituições. “Se existe, por exemplo, um casal que vive isolado mas que recebe regularmente a visita de um lar, que lhes leva as refeições, os medicamentos ou lhes presta qualquer outro cuidado, é evidente que as passagens das patrulhas da Secção de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário não se realizam com a mesma frequência das que são feitas relativamente às pessoas que estão totalmente isoladas e sem visitas de qualquer espécie”.
Os contactos regulares dos seniores com familiares continuam a ser defendidos pela GNR que alerta ainda para o facto de, por vezes, serem detetadas pessoas com problemas de saúde e até carências alimentares. “O abandono dos idosos acaba por ser uma triste realidade, até porque muitos familiares destas pessoas que vivem mais isoladas também não possuem grandes meios”, salientou o responsável policial.
As estatísticas fornecidas pelo Destacamento Territorial de Setúbal mostram que, no distrito, tem vindo a aumentar o número de idosos considerados em risco. Enquanto em 2015 eram 1632, agora são os já referidos 2035. No ano passado atingiu-se o número máximo, com 2047 pessoas sinalizadas.