Para onde foi o turismo a que temos direito?

Será que a pandemia mudou o turismo para sempre? Pelo menos no pequeno “sempre” que corresponde às nossas vidas?

A resposta é a mais simples do mundo: ninguém sabe!

Sejamos humildes por uma vez já que no início da pandemia não o fomos. Em nome do domínio do Homem sobre o planeta desvalorizámos o “vírus chinês” e ele virou rapidamente “vírus mundial”. Chegou às nossas vidas e às nossas casas.

O regresso do turismo não será certamente para amanhã. Quase todos os estudos de referência dizem que serão precisos 4 anos. 4 longos anos. Pode ser que sim. Pode ser que não.

Mas a pergunta essencial não é o “quanto tempo?” mas sim “o que fazer no durante?” Apetece responder: “voltar ao básico”.

E o básico começa por ser a comunidade. A nossa. E a nossa alargada. Contemos, para já, com os clientes da nossa rua, do nosso bairro e da nossa cidade. A seguir concentremo-nos nos turistas do nosso próprio país. E só depois pensemos em quem desde de aviões.

Estamos assim reduzidos a um turismo nacionalista. O que a mim me deixa emoções contrastantes. Por um lado o nacionalismo não é a minha praia. Foi na política a causa dos maiores terrores do século XX. Por outro lado o mercado interno que vale 30% em Almada, 52% em Setúbal e 49% em Sesimbra (só para vos dar alguns exemplos) sempre deveria e deve, hoje mais do que nunca, ser alvo de uma atenção muito especial.

Falando com muitas empresas de turismo (em particular alojamento e animação turística), nos últimos 2 meses, percebi o “novo normal” representado pela “redescoberta” dos clientes portugueses.

2020, ou a parte dele que teve turismo, revelou uma nova realidade de clientes portugueses que normalmente viajariam para o exterior e que, desta vez, ficaram em Portugal e revelou, em simultâneo, um país à procura de si próprio.

Para as empresas de Sesimbra e de Setúbal foi uma excelente surpresa em julho, agosto e até setembro. Fez perceber oportunidades de negócio aqui mesmo ao lado. E o aqui mesmo ao lado pode ser Lisboa, Sintra, Loures, Braga, Porto, Guimarães, Aveiro ou Coimbra. Os portugueses salvaram o que foi possível salvar do verão.

A má notícia é que o mercado interno não chega, nem pouco mais ou menos, para manter o grande, crescente e diverso tecido empresarial da nossa região.

Estão interessados em saber o peso do turismo na nossa Região (AML)?

Vamos a isso: antes da pandemia, o sector do turismo gerava na Região de Lisboa 14,7 mil milhões de euros de receita anual, sendo a região que mais contribuía para as receitas nacionais; assegurava ainda mais de 200 mil empregos e contribuía com 20,3% para o PIB regional e 15,4% para o emprego.

Por isso à pergunta inicial podemos responder que “o turismo a que temos direito” foi para o futuro. Esse tempo que terá uma vacina disponível e universal. Até lá, para empresas e trabalhadores, será um tempo para resistir. Porque não tenham dúvidas: estamos todos ávidos do turismo a que temos direito.

Até já.

Turismo Semmais
Jorge Humberto
Colaborador