Eduardo Marques (Caparica): Cinco dias à porta de dois hospitais até morrer

“O meu tio, Eduardo Marques, era uma pessoa doente. Com um passado clínico preocupante. Há menos de três semanas, na sua casa, na Costa da Caparica, começou a sentir-se febril. Ele, a mulher e o filho. Todos testaram positivo à covid-19. Morreu cerca de uma semana depois. Foi tudo muito rápido”, conta.

A história de Eduardo Marques, de 76 anos, ex-operário da Setenave, antigo vendedor de peixe numa banca do mercado da Costa da Caparica e um eterno apaixonado pela pesca, sendo frequente a sua presença nos areais, para ajudar a recolher as redes da arte xávega, foi-nos contada pela sobrinha por afinidade, Cláudia Páscoa. Um relato sem azedumes, mesmo que muitos leitores o possam considerar frio e até cruel.

Depois de feito o teste e de se ter confirmado que tinha Covid, continuou em casa, sob vigilância médica. Tinha febre e, a partir de uma determinada altura, muita diarreia. Foi então, três ou quatro dias depois de ter testado positivo, que foi transportado pelos bombeiros para o Hospital Garcia de Orta.

“Chegado ao hospital, o meu tio e a família tiveram outra surpresa desagradável: Não havia vagas para internamento. O hospital estava cheio. O meu tio ficou três dias dentro de uma ambulância estacionada à porta do hospital. Era acompanhado por médicos, que explicaram que a situação não era boa, até porque lhe fora detetado líquido nos pulmões. Ficou a soro e oxigénio. Uma situação muito grave, até porque era doente oncológico. Já fizera duas cirurgias no IPO, para onde ainda o tentámos transferir, e até já passara por uma situação dramática, depois de ter apanhado duas bactérias hospitalares.

“Passaram-se três dias e, como continuava sem haver vagas no Hospital Garcia de Orta, resolveram enviá-lo para o Hospital de Portimão. Foi de ambulância, num dia à noite. Mas, quando lá chegou, também não foi internado. Tal como em Almada, também não havia camas disponíveis. Ficou então dois dias dentro de uma tenda montada à porta do hospital. Ao fim de dois dias, morreu. Parece que precisava de ventilação, a qual lhe foi dada apenas na véspera da morte. Uma tarefa que já terá sido muito difícil de executar”.

“Foi tudo muito rápido. Veio para a Costa da Caparica e foi sepultado. Tudo muito rápido e sem grandes possibilidades de despedidas dos familiares”, conclui.