O alento de Ana Abrunhosa pode ser enganador

Depois de há uns meses atrás ter-se colocado ao lado da península na urgência da criação da NUT III para facilitar o acesso da Península de Setúbal aos fundos comunitários, a ministra da Coesão, Ana Abrunhosa, veio agora declarar o óbvio (o Semmais já o tinha anunciado há muito), que nenhuma mudança ocorrerá até 2030. Estamos então perante mais dez anos de atraso e de injustiça que podem provocar um substancial recuo no nosso desenvolvimento.

Na posição que assumiu em resposta a parlamentares da região, em novembro de 2020, Ana Abrunhosa mostrou que não estava preparada para abordar o polémico assunto e, com essa sua narrativa, gerou uma falsa onda de esperança junto dos agentes políticos e económicos da península. Foi enganador.

Mas é preciso fazer alguma coisa. E não pode ser com “paninhos quentes”, tanto mais que, agora, e felizmente, este assunto vital parece gerar um enorme consenso na região.

A ministra oferece, nas suas palavras, “robustecer as experiências de medidas” no próximo quadro comunitário de apoio, nomeadamente, através de “avisos dedicados” que até podem vir a ter “taxas majoradas para a península”. Vamos a isso, agora!

E vamos forçar para o que o Plano de Recuperação e Resiliência, no quadro do distrito, reforce essa perceção de injustiça face a uma região que não é rica, antes pelo contrário, mas ainda assim contribui com uma grande fatia das exportações e da riqueza nacional.

Por outro lado, a nossa indústria não pode continuar a perder competitividade só por causa deste ‘entalanço’ estatístico que não espelha a realidade, nem corresponde a nenhuma aferição concreta do estado de desenvolvimento da região.

E que se obrigue, agora e em força, a um comprometimento do Governo e das instâncias tutelares para fazer avançar o processo da NUT III para a região, sob pena de prolongarmos na próxima década o jogo das palavras.

Raul Tavares
Diretor