Sado e Sines de novo na rota dos traficantes

No espaço de uma semana foram apreendidas quase duas toneladas de cocaína. PJ suspeita que os traficantes sul-americanos estão a reativar um antigo percurso, evitando desta feita a passagem da droga por África.

O estuário do Sado, bem como os portos de Setúbal e Sines, estão novamente a ser utilizados em larga escala pelos traficantes de cocaína que operam a partir dos portos brasileiros e da Colômbia. No espaço de uma semana foram apreendidas quase duas toneladas de droga nas duas infraestruturas portuárias do distrito que, de acordo com informações policiais, voltaram a ser locais preferenciais de desembarque das redes sediadas em Espanha.

“Apenas uma pequena parte da cocaína apreendida nos portos de Setúbal e Sines ficaria em Portugal. Todos os indícios apontam para que mais de 90 por cento pudesse ser reencaminhada para Espanha e, daí, revendida para diversos países europeus”, explicou ao Semmais fonte policial que pediu o anonimato.

As duas mais recentes apreensões em Setúbal e Sines, assim como os meios utilizados pelos suspeitos, levam os investigadores da Polícia Judiciária (PJ) a concluir que estão novamente a ser utilizadas “em larga escala” rotas que, nos últimos anos, teriam menos utilização. “As redes de tráfico de cocaína variam as suas rotas e métodos. Em Portugal, o Algarve é uma das principais portas para a introdução de haxixe. Quanto à cocaína, há algum tempo que não se conhecia uma atividade tão intensa em Setúbal e Sines. Nos últimos anos muita da droga embarcada no Brasil acaba por fazer escala em África, nomeadamente na Guiné”, disse a fonte.

 

Apreendidas cerca de duas toneladas de droga numa semana

A 20 de maio, em Setúbal, a PJ, em colaboração com policias internacionais, nomeadamente a espanhola, apreendeu em contentores que haviam sido desembarcados em Setúbal mais de uma tonelada de cocaína. Na sequência das investigações, que haviam de conduzir à constituição de uma dezena de suspeitos e à detenção de alguns estivadores e identificação de um militar da GNR, seria ainda apreendido um camião TIR que os traficantes terão abandonado no Sado depois de, aparentemente, ali terem descarregado “uma ou duas lanchas rápidas”. “Por vezes as lanchas são utilizadas para ir buscar a droga que é transportada em navios que ficam ao largo. São embarcações muito rápidas, equipadas com vários motores e que efetuam o trabalho muito rapidamente. Depois, na zona do estuário, a droga acaba por ser carregada em automóveis e levada para Espanha”, explicou a mesma fonte policial.

Já esta semana, ainda na sequência da colaboração policial internacional, a PJ acabaria por apreender, desta feita em Sines, mais de 860 quilos de cocaína. Esta droga estava acondicionada em sacos contendo carvão e, numa primeira observação, confundia-se com este, uma vez que fora submetida a um tratamento frequentemente utilizado pelas redes de traficantes.

No ano passado, no mesmo local, tinham sido apreendidos de uma só vez mais 800 quilos de cocaína: estavam escondidos em estruturas de borracha utilizados na construção de pontes e destinados a atenuar os efeitos dos sismos.