A paz podre que se vive no Hospital São Bernardo, em Setúbal, ameaça a estabilidade clínica, com efeitos perniciosos para os utentes, e o justo desejo de que aquele centro hospitalar suba de nível e, dessa forma, passe a receber mais verbas para a sua missão quotidiana.
Sabe-se que há valências em rutura, abandono de especialistas e um serviço de urgências que vai funcionando aos solavancos.
Não é um problema de hoje, mesmo que, de acordo com a administração do São Bernardo, tenha havido um acréscimo de clínicos, nomeadamente tarefeiros, o que não resolve o problema de fundo.
Um centro hospitalar desta envergadura, que serve três dos concelhos mais populosos do distrito, Setúbal, Palmela e Sesimbra, não pode continuar a viver desta míngua, com falta de médicos, sem diálogo entre pares, com ruídos internos, muita insatisfação, e alguma falta de rumo.
Acresce que a ampliação da unidade está a dividir ainda mais os agentes hospitalares. Para além da demora nas decisões da tutela e do Governo, seria a altura certa para se acertar um novo plano estratégico para o futuro do São Bernardo. Uma ampliação mais robusta, que resolva os problemas e as contingências de hoje e não as que foram identificadas há alguns anos atrás. A não ser assim, será sempre uma espécie de remendo que não ataca verdadeiramente as necessidades da população.
Há também a ponderar a equação trazida com o anunciado fecho do Outão, um dos hospitais de referência em todo o país nas suas especialidades, que não cabe na ampliação que parece estar em curso (já há verbas inscritas para o efeito) e vai gerar novas conflitualidades orgânicas e físicas, conforme a maior parte dos médicos têm vindo a afirmar.
Mas o maior quisto deste processo é inexplicável. Como resolver esta equação e seguir em frente, quando administração e clínicos estão de costas voltadas? Como é possível não haver esforços conjuntos e conseguir-se uma enorme plataforma de entendimento que faça o Governo arrepiar caminho e dar um safanão neste processo.
E como é possível que assunto tão sério esteja a entrar na gincana política eleitoral, com passa-culpas, ironias atrozes e armas de arremesso?
Se há alguma coisa a aprender com o processo das NUTs é unir esforços e fazer com todos estejam do mesmo lado. Salvar o S. Bernardo em nome das populações que gestores hospitalares, médicos e políticos dizem servir.
Raul Tavares
Diretor