Sesimbra investe na museologia ligada ao mar e à arte da pesca

O Centro Cultural Costeiro abre em abril e corresponde a um investimento de dois milhões de euros. Recentemente iniciaram-se os trabalhos que hão de levar ao surgimento de uma extensão do Museu Marítimo.

O mar a pesca e a indústria naval são, cada vez mais, vetores essenciais no crescimento económico, turístico e cultural de Sesimbra. O Centro Cultural Costeiro é uma realidade que estará consumada até abril de 2024. Trata-se de um investimento de dois milhões de euros que trará à vila diversas contrapartidas, sobretudo cientificas, da Noruega. E as obras de reestruturação do último estaleiro naval que ali existia já começaram. No local vai nascer uma extensão do atual Museu Marítimo, um sítio onde se poderão ver a trabalhar os poucos artífices de uma arte quase extinta.

“Sobre a extensão do Museu Marítimo de Sesimbra, projetada para o cais, podemos dizer que estamos em fase de projeto”, adiantou ao Semmais a coordenadora e arqueóloga do núcleo museológico local, Andreia Conceição. “Não sabemos dizer quando é que esta obra estará concluída (a demolição da antiga construção, onde vai nascer um passadiço, iniciou-se no dia 5) mas o conceito está estabelecido. Trata-se de um estaleiro/escola, que terá o nome de Acácio Farinha, o último construtor naval de embarcações de madeira no concelho. É um projeto que visa, principalmente, a valorização do património”, acrescentou.

Andreia Conceição refere, por outro lado, que a autarquia pretende que o estaleiro/escola, aproxime a comunidade piscatória aos projetos. “Queremos que todos os mestres destes antigos ofícios quase extintos, porque já não se fazem embarcações de madeira, possam vir explicar como se trabalhava, como se faziam os barcos de pesca em Sesimbra e qual a importância que os mesmos tinham na comunidade. É por isso que estamos a contactar quem tratava do modelismo naval, da calafetagem e da reparação e construção”, afirmou.

Uma das pessoas que mais de perto tem acompanhado a construção do estaleiro/escola é Rui Farinha, filho de Acácio Farinha e que, durante cerca de 80 anos, esteve ligado à construção naval sesimbrense em madeira. “O meu pai morreu em 2017 e eu ainda estive no estaleiro durante mais um ano. Mas, há mais de 20 anos que tentava que se fizesse algo que mostrasse no exterior o que se fazia em Sesimbra em termos de indústria naval. Há algum tempo consegui, por fim, que a câmara ficasse com o espaço e que se comprometesse a fazer ali um museu vivo, onde seja possível mostrar as antigas técnicas de construção”, disse ao nosso jornal.

Já a responsável museológica adiantou também que o antigo estaleiro poderá ainda servir para fazer o restauro e manutenção de diversas embarcações de pesca que já deixaram de ir ao mar, para além de poder ser importante no restauro de diversos equipamentos ligados à pesca. “Queremos, sobretudo, promover a continuidade. Preferimos que se dê continuidade a uma atividade em lugar de estar a promover a recuperação. Significa que a mesma não acabou”, adiantou.

Apostar na internacionalização das artes do Mar

Enquanto não são anunciados os prazos de construção e os custos da extensão do Museu Marítimo, a autarquia ultima os preparativos para a inauguração de um dos mais impactantes projetos dos últimos anos relacionados com as atividades do mar. O Centro Cultural Costeiro abre a 30 de abril e promete ser um catalisador económico e cultural, juntando não só as potencialidades turísticas como as académicas.

“Trata-se de uma obra de grande dimensão, que irá reunir muitas valências. O Centro Cultural Costeiro, localizado num edifício que antes estava praticamente ao abandono, terá, entre outras coisas, um laboratório para conservação e restauro, mas também irá dispor de um auditório, salas educativas, gabinetes de investigação, espaços de exposição e, muito importante, será um espaço aberto à população e à comunidade piscatória, que poderá sempre dar ideias e sugestões”, disse Andreia Conceição.

Este projeto tem ainda a particularidade de estar ligado a várias entidades nacionais e estrangeiras, neste último caso à Noruega, país que irá financiar uma parte importante dos dois milhões previstos. “Temos parecerias com a Universidade Ártica da Noruega, mas também com o Museu Marítimo localizado em Oslo. Além disso teremos uma parceira com a Associação de Armadores de Pesca Local e Costeira do Centro e do Sul”, afirmou a mesma responsável, lembrando que “é muito importante manter vivas as ligações a uma atividade que foi o sustento de muita gente no concelho e que era a peca artesanal”. Essa proximidade pode manifestar-se, por exemplo, com as técnicas de construção das aiolas, embarcações de madeira que tinham um dimensão entre os 3,20 e 3,80 metros e que eram muito utilizadas na pesca local, que consistia na captura de lulas, chocos e polvos.