RASI volta a colocar Setúbal como o terceiro distrito do país com maior delinquência. Crimes como a violência doméstica e os cometidos em ambiente escolar continuam a progredir. Em 13 concelhos só houve menos participações em dois.
A criminalidade geral comunicada em todo o país em 2023 atingiu os valores mais altos dos últimos dez anos. Setúbal, que continua a figurar entre os três distritos com maior número de delitos, foi o segundo com o maior aumento (mais 12,9 por cento). Ao todo, no nosso território, registaram-se 35.210 crimes, mais 4.040 do que um ano antes.
O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) 2023, recebido e disponibilizado pelo Governo na terça-feira, diz que o distrito de Setúbal só tem menos crimes comunicados do que os de Lisboa e Porto. Esta é, de resto, uma prática que se verifica há muitos anos e que se explica não só pela densidade populacional, mas também pela proximidade à capital. No ano transato, Setúbal, com um acréscimo de 12,9 por cento, foi entre os 18 distritos nacionais o segundo em crescimento de delitos (Faro ficou em primeiro com mais 13,5 por cento).
Outro indicador grave do último RASI tem a ver com o aumento da criminalidade greve. Sendo um fenómeno que alastrou, na generalidade, a todo o país, tem no entanto um peso acentuado em Setúbal, que há dois anos tinha registado 1.330 ocorrências e no ano passado teve 1.684, o que representa um acréscimo de 26,6 por cento. Fontes policiais contactadas pelo Semmais referem que este aumento, mais uma vez, se explica pelo número de residentes e a proximidade e facilidade de deslocação a Lisboa, mas também pelo facto de o distrito continuar a ter uma taxa elevada de desemprego que aflige, sobretudo, cidadãos estrangeiros e, também, um elevado número de jovens desenraizados, muitos deles residentes em bairros sociais ou até de barracas, onde a presença policial pode ser menos intensa e tem efeitos menos dissuasores.
Registos aumentaram em 11 dos 13 concelhos
O aumento da criminalidade no distrito fica, de resto, expresso no facto de no ano passado apenas em, dois concelhos (Santiago do Cacém e Grândola) os números gerais não terem suplantado os de 2022.
O último RASI diz que foi em Almada que, mais uma vez, se contabilizou o maior número de participações, tendo-se chegado às 7.789. Setúbal atingiu as 5.049 e o Seixal as 4.456. Já o Barreiro teve 3.586 casos participados e Palmela atingiu os 2.699. Ainda na primeira metade da tabela surgem os concelhos da Moita e do Montijo com, respetivamente, 2.589 e 2.548 delitos denunciados.
O segundo segmento da tabela inclui os quatro concelhos que se localizam no Litoral Alentejano e, mais uma vez, Alcochete, que sendo um município da península de Setúbal e relativamente próximo de Lisboa, tem a particularidade de ter uma baixa densidade habitacional, mas também uma prevalência de residentes de condição sócio-económica média/alta. “Não é correto dizer que só os pobres é que roubam. Mas é um facto que os crimes são mais potenciados em zonas mais degradadas do que naquelas onde não existem tantas carências”, explicou a fonte policial contactada.
Os dados estatísticos referem então que em Santiago do Cacém ocorreram 914 crimes comunicados às diversas entidades policiais (são coligidos a nível nacional as participações efetuadas em oito forças de segurança). Sines atingiu as 777 participações, Alcochete ficou pelas 705, Grândola pelas 682 e Alcácer do Sal teve 543 casos. Há ainda registo de 755 queixas efetuadas por crimes em que não foi possível definir a localização geográfica.
Violência doméstica continua a crescer
Tal como na criminalidade geral e na criminalidade violenta e grave, também a violência doméstica coloca o distrito de Setúbal na terceira posição nacional. No ano passado, aliás, os números verificados até contrariam a média do país, pois percentualmente, no computo dos 18 distritos analisados, verificou-se um abaixamento de 27 casos (30.461) já em Setúbal registou-se uma subida de 3,9 por cento, com 2.995 participações, mais 104 do que em 2022.
O RASI coloca ainda o distrito no terceiro lugar no que diz respeito a crimes praticados em ambiente escolar. O total do país atingiu as 5.380 ocorrências, das quais 794 ocorreram no distrito. Só Lisboa e Porto tiveram mais.
Dentro da criminalidade geral no nosso território, para além da violência doméstica, assumem também relevo as burlas, as burlas informáticas com comunicações e a condução sem habilitação legal. Já dentro da criminalidade violenta e grave destacam-se os roubos na via pública, o crime de resistência e coação sobre funcionário, o esticão, a ofensa física voluntária grave, a extorsão e o roubo em edifícios comerciais e industriais.