Encontrámos-nos por acaso numa viagem de carro partilhada entre o Parlamento Europeu e o aeroporto. Começámos a falar em Francês, mas o meu companheiro de viagem depressa compreendeu que eu era português. Perguntou-me onde vivia. Entre Lisboa e o Alentejo respondi eu. A minha resposta abriu acaixa de Pandora. Conhecia tudo ou quase sobre Portugal. Produzia vinho no País natal, mas era Portugal a sua paixão. Falou de Cascais, de Lisboa, do Porto de Coimbra e sobretudo do Alentejo. Das suas gentes, da sua luz, da sua história, do seu carácter genuíno, da segurança, da gastronomia e naturalmente dos vinhos. Percebi que já tinha estado em quase todo o território e que conhecia bem os restaurantes, os hotéis, os museus, as adegas, os centros de conhecimento, as paisagens, as aldeias, as vilas e as cidades.
Falei-lhe dos Alentejos que fazem o Alentejo, das dificuldades de massa crítica que temos, das distâncias, da demografia, mas sempre com o brilho nos olhos por ter encontrado no acaso dos dias uma pessoa que não sendo português nem alentejano (pensei desde o inicio que seria francês) gostava tanto do Alentejo como eu e parecia valorizar pouco (talvez por passar por lá regularmente, mas não viver lá) as maleitas que também temos e eu não lhe escondi.
A viagem não era longa. A minha curiosidade de conhecer um pouco mais de quem tanto conhecia e parecia apreciar o Alentejo crescia, mas o entusiasmo do seu discurso não parecia abrandar. Quando me apercebi que estávamos a cruzar a cancela do aeroporto de chegada interrompi. E o meu caro amigo? De que região francesa é? Que vinho produz? Sou italiano, da Campania, respondeu para minha surpresa. Produzo um dos melhores “Falanghinas” do mundo! Italiano, admirei-me eu. E vinhos da casta Falanghina? Provei uns bem bons no contexto da iniciativa da Capital Europeia do Vinho, promovida pela Rede Europeia de Cidades com Vinho (RECEVIN) que congrega 800 cidades europeias em que a produção de vinho é uma referência forte da sua identidade. Sannio, a região produtora por excelência destes vinhos e Benevento a sua capital foram as vencedoras em 2019. Alenquer e Torres Vedras tinham arrebatado a distinção em 2018 e entre outras, Reguengos de Monsaraz foi uma capital de excelência em 2015. Foi aliás desde a candidatura e vitória da alentejana Reguengos que passei a acompanhar mais de perto esta rede. Um exemplo entre muitos outros daquilo que amarra a União Europeia a si mesma, na diversidade e na unidade.
Chegámos, entretanto. Cada um foi ao seu destino. Compreendi depois que nem fiquei a saber o seu nome. Era um europeu, italiano, amigo de Portugal e apreciador do Alentejo. Sem Mais.
Carlos Zorrinho
Eurodeputado PS