Em cada uma das crónicas de opinião que vou escrevendo neste espaço, com prazer e liberdade, hesito sempre entre “deixar-me levar” pelo pensamento racional, pragmático ou pela divergência criativa e emocional. Nem sempre é fácil articular! A ideia “… além-covid19” emergiu da leitura o Jornal Expresso, na sua edição n.º2525, de 19 de março.
Um dos artigos referia o alargamento da rede de laboratórios associados, que passou de uma lista de “25 laboratórios” de investigação e desenvolvimento (que se mantinha desde 2008), para uma lista de 40 unidades cujo estatuto permite um financiamento adicional, através da Fundação de Ciência e Tecnologia (FCT). Uma notícia particularmente relevante para duas instituições localizadas no interior do país, destacando-se a Universidade de Évora, que passa a coordenar dois destes laboratórios, e o Instituto Politécnico de Bragança que conseguiu ver este estatuto aprovado para um novo “Laboratório para a Sustentabilidade e Tecnologia em Regiões do Interior”. Este último corresponde ao primeiro laboratório associado baseado numa instituição de ensino superior politécnico.
E, se o alargamento da rede de laboratórios associados é uma boa notícia para os investigadores e instituições que os acolhem, é também uma boa notícia para a criação de emprego qualificado, para a investigação e transferência de conhecimento necessário para enfrentar os desafios que sairão desta crise pandémica. Mais, os compromissos assumidos por esses laboratórios junto da FCT, obrigam à integração na carreira 10% dos investigadores doutorados, o que é positivo para a estabilidade dos investigadores, do próprio sistema científico nacional… e algo que me despertou particular ressonância, nomeadamente “…desenvolver atividades relacionadas com as políticas públicas nas mais diferentes áreas e dar resposta às necessidades do Estado”. Um compromisso exigente com várias leituras. Que necessidades?
No caderno de economia do mesmo jornal, podemos ler que o Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, Carlos Miguel, a propósito das condições para operacional os fundos comunitários, “arrasa a burocracia do Estado”. Concordamos todos! A questão é: de que burocracia estamos a falar? A que resulta da falta de pro-atividade na organização e planeamento?
Voltando às condições colocadas aos laboratórios associados. Um dos grandes desafios, e “necessidades do Estado”, é encontrar um equilíbrio na relação entre o setor público e o setor privado, na aplicação dos fundos comunitários. Na contratualização pública de bens e serviços, mas também na agilização dos processos de transferência de conhecimento e tecnologias associadas ao desenvolvimento de novos produtos ou serviços que possam dar origem ou potenciar investimentos privados – no interior do país! A coesão do território agradece.
Aldo Passarinho
Professor Instituto Politécnico de Beja