Era sobre o clima, o seu aquecimento e as catástrofes e maleitas por ele provocadas que se centravam quase todos os debates globais quando de repente irrompeu nas nossas vidas a pandemia.
Num primeiro momento houve quem dissesse que o vírus era um enviado para nos fazer recuar no caminho para o precipício, quem argumentasse que depois dele nós passaríamos a valorizar muito mais a natureza e a sua biodiversidade e como tal a ter comportamentos mais protetores do planeta e quem se tivesse logo ali declarado convertido à vida simples e em harmonia com a natureza.
Agora que se começa a vislumbrar os traços do que poderá ser o pós-pandemia, verificamos que muita coisa não ficará igual, alguns comportamentos e opções poderão ser mais racionais e sustentáveis, mas o problema do clima ainda está longe de estar resolvido.
A União Europeia, que aprovou recentemente, com um contributo muito relevante da Presidência Portuguesa do União Europeia e do Parlamento Europeu uma ambiciosa Lei do Clima que procura retomar o seu alinhamento com o Acordo de Paris, reduzir as emissões de efeito de estufa em 55% até 2030 (em relação a 1990), atingir a neutralidade carbónica em 2050 e liderar o pacto ecológico (Green Deal) quer no plano interno quer nas parcerias com outros continentes, tem agora a companhia da nova administração americana e de Joe Biden para ambicionar esse desiderato, como demonstra a recente cimeira do clima por ele convocada.
Uma das memórias mais fortes que guardo da minha vida política foi ter assistido ao vivo ao jogo do gato e do rato entre os grandes líderes mundiais na Conferência de Copenhaga em 2009, em que entre outras peripécias me cruzei com Obama e os seus homens que procuravam o Líder Chinês no centro de convenções. Eu só tinha visto passar Lula e foi o que disse. Soube depois que Lula tinha ido para uma reunião dos BRICS (Brasil, Rússia, India, China, Africa do Sul) onde Obama irrompeu e acabou por atingir um acordo pouco ambicioso que depois Barroso já pouco conseguiu alterar.
Desde 2009 até hoje muita coisa mudou, mas o clima continua na ordem do dia e o combate ao aquecimento climático deixou de ser apenas uma ideologia de sustentabilidade para se tornar o centro do desenvolvimento de novas tecnologias capazes de o tornar possível. É hoje uma prioridade geradora de qualidade de vida, mas também de crescimento, emprego e desenvolvimento sustentável.
Já escrevi várias vezes neste espaço sobre o potencial que tem para o Alentejo a digitalização verde, ou seja, a capacidade de nos tornarmos uma região rica no potencial de processar dados com recursos a tecnologias limpas. O novo projeto Sines 4.0 é um exemplo perfeito dessa visão. Nuvens de dados e sol transformado em energia limpa e acessível é um microclima que promete muito. Sem Mais
Carlos Zorrinho
Eurodeputado PS